Diário da Quarentena- Por que o Brasileiro não faz o distanciamento social?

Por Caco Schmitt

Jornalista, roteirista e diretor. Trabalhou na TV Cultura/SP como diretor e chefe da pauta do jornalismo; diretor na Agência Carta Maior/SP e na Produtora Argumento/SP. Editor de texto no Fantástico, TV Globo/SP. Repórter em vários jornais de Porto Alegre, São Paulo e Brasília.

É angustiante ver que o brasileiro não consegue manter o distanciamento social. Em quase todas as grandes cidades do Brasil, as pessoas cada vez mais se aglomeram nas ruas, feiras, praias, bares como se a pandemia já tivesse terminado! Confundem flexibilização de algumas atividades com a volta da normalidade total. Só respeitam quando há cordas, cavaletes, polícia sinalizando a proibição. Vejam o exemplo de Porto Alegre, onde a epidemia cresce em número de casos e de mortes. A Prefeitura estimou ser necessário um distanciamento de 55% para travar o contágio, mas segundo dados medidos pela empresa Inloco, por meio do rastreamento da movimentação de 540 mil usuários de celular pela cidade, na última sexta-feira, ele ficou em 39,9% – menor nível de distanciamento desde junho. Mesmo que ontem tenha subido para 50%, em função de ser sábado, está abaixo da meta estabelecida, e segunda já volta a cair.

Se as condições aqui seriam, em tese, quase ideais para o distanciamento, por que ele não acontece? E por que ideais? Simples: 1) Frio e chuva: não tem nada melhor para nos manter no quentinho das nossas casas, tanto que em tempos normais o movimento cai naturalmente; 2) Só as atividades essenciais funcionam a pleno na cidade. Lojas, shoppings, academias, escolas, tudo fechado; 3) desde quinta-feira, a prefeitura bloqueou o vale-transporte de 130 mil pessoas que trabalham nas atividades não essenciais, para evitar movimentação; 4) a orla do Guaíba, o novo playground do porto-alegrense, foi fechada, evitando as grandiosas aglomerações. Assim como os maiores parques cidade. Então, onde é que vai toda essa gente? O que fazem nas ruas, se está tudo fechado?

Não é só Porto Alegre que desrespeita essa recomendação da Organização Mundial da Saúde, é geral no Brasil. E as desculpas (razões?) são muitas: é da natureza do brasileiro se aglomerar; as pessoas estão cansadas da quarentena; muitos são negacionistas e não aceitam regras (só percebem o novo coronavírus quando são infectados); a maioria vai às ruas porque precisa sobreviver, afinal o governo não tem uma efetiva política de defesa dos pobres, do pequeno comerciante, empresário, do profissional liberal, dos autônomos, dos artistas, enfim, do povo brasileiro. Independente do peso de cada uma das razões, e são muitas, a verdade é que ninguém arrisca morrer só pra provar sua tese. Existem os suicidas, mas em percentagem muito pequena, assim como os fascistas pandêmicos que não usam máscaras, se aglomeram, e colocam fotos nas redes sociais para provar a tese das suas lideranças de que a pandemia é uma farsa. Esses são em maior número, mas a maioria que vai às ruas, passear, tomar um chope, afrontar as regras sanitárias, ou mesmo buscar o sustento, não quer morrer. Muitos vão por falta de informação, acham que não vai dar nada, outros por necessidade. Quem está nas ruas atrás do sustento, ficaria em casa com a família se recebesse uma renda mínima decente para atravessar esses meses sombrios.

Por falta de educação, consciência, conhecimento, ou por informação distorcida, a realidade é que essa não adesão ao distanciamento social, também por culpa das autoridades estaduais e municipais que cederam às pressões, vai manter o platô de mil mortes diárias no país por muito tempo. O drama da pandemia vai se prolongar no Brasil por culpa de muitos, mas a culpa maior não é do povo, é do governo federal que não combate, não orienta, não se importa, e está condenando à morte sua gente. O Ministério da Saúde confirmou no dia 26 de fevereiro o primeiro caso de novo coronavírus em São Paulo, um homem de 61 anos que deu entrada no Hospital Albert Einstein, vindo da Itália. Quatro meses e meio depois, o maior culpado pela nossa tragédia – hoje são 71.584 mortes e 1.846.249 infectados – ainda é o mesmo: tem endereço fixo, nome (que prefiro não pronunciar) e segue na presidência da república.

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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