Diário da Quarentena-Não quero presente no dia dos pais

Por Caco Schmitt

Jornalista, roteirista e diretor. Trabalhou na TV Cultura/SP como diretor e chefe da pauta do jornalismo; diretor na Agência Carta Maior/SP e na Produtora Argumento/SP. Editor de texto no Fantástico, TV Globo/SP. Repórter em vários jornais de Porto Alegre, São Paulo e Brasília.


No Brasil, o Dia dos Pais é uma data importada por um publicitário na década de 1950. De lá pra cá tem movimentado o comércio e transformou-se na quarta de maior volume de vendas, atrás do Dias das Mães, Natal e dos Namorados. Nunca fui muito de datas, apenas no Natal pelo simbolismo geral pra família. Mas forçar a abertura de todo o comércio em Porto Alegre nesta sexta-feira, sábado e domingo para vendas direcionadas para o Dia dos Pais é algo muito irresponsável. Porto Alegre e o Rio Grande do Sul vivem seu pior momento da pandemia, a cada dia aumenta a ocupação das UTIs, mas a pressão dos representantes do comércio, da imprensa baba-ovo de empresários (pelo fator publicidade) e de prefeitos de olho na reeleição está nos jogando às trevas. Claro que as pessoas têm que trabalhar pra comer, mas nos países decentes os governos, com respaldo dos Parlamentos, injetaram recursos, pagaram salários e até cobriram lucros perdidos dos comerciantes. Aqui, pra liberar uma merreca de crédito para o pequeno foi uma guerra. Então, todos forçam a abertura mesmo correndo graves riscos. Empresários, comerciantes, prefeitos, governadores deveriam pressionar o governo federal e não forçar a abertura de tudo com a pandemia ainda com números assustadores.

Falei há seis dias que estávamos assistindo o “oportunismo bandido”. Os empresários apoiaram a volta do futebol em Porto Alegre e, assim que a dupla GreNal entrou no Beira-Rio e na Arena, desabou a pressão: “Se tem jogo, tem que abrir o comércio!” Conseguiram… Os comerciantes alegam que irão tomar todos os cuidados, mas quando falam isso no Brasil… corram! Quer dizer nas entrelinhas que não vão testar os funcionários, os ambientes não serão desinfetados adequadamente. No máximo máscara para os trabalhadores e álcool gel para os fregueses. Os empresários afirmam que o funcionário estará seguro no trabalho, mas não se preocupam com o meio do transporte que ele terá que usar pra chegar à loja: ônibus lotados, sem cuidados e focos de infecções. Daqui 15 dias as internações nos hospitais já lotados irão aumentar. Isso que hoje o número de pessoas contaminadas no país chegou a 2.971.562 e o de mortes 98.644.

O resumo da ópera nem preciso falar: não quero presente no Dia dos Pais. Meus filhos já sabem. Eles estão tomando todos os cuidados, seguindo os protocolos de segurança sanitária, distanciamento, protegendo os filhos deles, meus amados netinhos. Esse é o maior presente: resistir, não se contaminar e não contaminar ninguém. Quando passar a pandemia, quando a Ciência descobrir a prevenção e/ou a cura, vamos comemorar até o Dia da Batata Frita… Mas, por hora, o melhor presente para o pai é a distância física e o abraço virtual.

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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