A quem interessa a privatização dos Correios?
Por Renata Vilela/Atualizaí
Compartilhamento da Central de Jornalismo
Disputa mundial pelo mercado de marketplace – shoppings virtuais que vendem de tudo – chega ao Brasil e enseja a privatização dos Correios.
Cada vez mais brasileiros estão familiarizados com o conceito de marketplace: os grandes shoppings digitais que vendem desde chaveiros a estruturas para a construção de casas. Atualmente, o mercado é dominado por gigantes como Aliexpress, Mercado Livre e, o maior de todos os players desse segmento, a Amazon.
A disputa econômica entre esses e outros shoppings virtuais tem como palco o mundo e, como no imperialismo do século XIX, há a necessidade de expandir mercados consumidores nas periferias do capitalismo. Por isso, a América Latina, sobretudo o Brasil, são vistos como importantes áreas de disputa por consumidores.
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O que a privatização dos Correios tem a ver com isso?
Hoje, o Mercado Livre é o marketplace de maior sucesso no país e a empresa mais rica da América Latina. Contudo, o Mercado Livre se prepara para a entrada da Amazon, que já opera timidamente na região, porém quer mais.
Para tanto, o Mercado Livre vem tentando diminuir a sua dependência dos Correios. Isso se dá porque duas gigantes do setor – a Amazon e Alibaba – podem se juntar para comprar a empresa pública de entregas do Brasil.
A compra dos Correios, que possuem uma grande estrutura logística que liga todos os lugares do País, seria excelente para qualquer empresa de marketplace. Porém, seria interessante para o país e seus habitantes?
E qual é o problema?
De acordo com a Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findtect), já existe uma parceria entre o poder executivo e a Amazon. A Findect relata que a empresa AWS, pertencente à Amazon, é parceira do governo trabalhando na manipulação de dados de ministérios.
No berço da Amazon – os Estados Unidos, a empresa já foi investigada por práticas predatórias de dados. Em meados de março, o senador republicano Josh Hawley pediu a abertura de um a investigação sobre a Amazon pelo uso ilegal de dados de vendedores externos para obter vantagens na criação ou precificação de produtos de sua marca própria. De acordo com Josh Hawley, essa é uma prática que levaria ao monopólio.
No caso brasileiro, a situação é ainda mais preocupante já que com a parceria com o governo, a Amazon tem os dados sensíveis de milhões de brasileiros. Fazendo mal uso deles, o que uma empresa que não possuísse ética poderia fazer?
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Desde o início da pandemia, houve um grande incremento nas vendas online no Brasil. De acordo com a ABComm, houve um aumento de 400% no número de lojas online por mês. Ou seja, os Correios passaram a entregar muito mais pacotes e encomendas.
Além do emprego dos ecetistas, esse aumento da abertura de empresas gerou empregos e renda dentro do Brasil. De acordo com a pesquisa da ABComm houve a abertura de 50 mil empresas por mês. Em relação aos setores, os que mais registraram aumentos nas vendas online foram, calçados (99,44%), bebidas (78,90%), eletrodomésticos (49,29%), autopeças (44,64%) e supermercados (38,92%).
E todas essas empresas estariam em risco caso uma gigante norte-americana ou chinesa viesse competir vendendo os mesmos produtos.
Mas tem mais..
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Os Correios não entregam só as compras online, entregam também cidadania. Nas mais remotas cidades do país, os Correios muitas vezes são a única instituição do estado. Servem como banco postal, entregam vacinas, realizam o ENEM, exportam e importam, levam informação, emitem documentos, entre outros.
Muitos desses serviços não geram lucros, apesar da empresa ser sim lucrativa. Contudo, mesmo assim são feitos, já que por serem uma empresa pública, o foco dos Correios não é o lucro, mas o atendimento a todos os brasileiros.