É bundalelê, liberou geral: o estouro da boiada nas praias do Brasil doente

Do Leblon ao Recreio dos Bandeirantes, sob um sol de 35 graus, o domingo coalhou as praias cariocas.

Por Balaio do Kotcho/UOL
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Era preciso pedir licença para dar um mergulho, sentar na areia ou abrir o guarda-sol.

As mesmas cenas se repetiram nas praias de São Paulo e no resto do país, embora a pandemia ainda esteja longe de acabar.
No dia em que o Rio inaugurou o verão do coronavírus, em pleno inverno, a média móvel de mortes subiu pelo nono dia seguido.

Bolsonaro ganhou mais uma.

Na sua vitoriosa cruzada contra o isolamento social, com mais de 120 mil mortos e quase 4 milhões de infectados, ele tinha todos os motivos para comemorar.

Sem máscara ou qualquer cuidado com a higiene, empilhados e aglomerados nas areias e no mar, todos podiam cantar os versos de Lenine:

“É bundalelê/ É bundalalá/Vou no vácuo do Suvaco/Até onde me levar”.

Veterinário para a boiada

Como seu presidente, os brasileiros não tiveram paciência para esperar as vacinas, mas a boiada que estourou no fim de semana pode ficar tranquila.

Para cuidar da vacinação contra a covid-19, o general interino da Saúde da Saúde nomeou nesta segunda-feira um médico veterinário.

“O Brasil está doente, as pulsões mais delirantes do país vieram à tona”, alerta a psicanalista Maria Homem, em entrevista à Folha:

“Tem muita pulsão de morte, claro. Uma pulsão de morte que, no momento, está vencendo. Quando você leva o pior do estado do Rio de Janeiro para o poder central, você vai ter uma milicianização global do poder do Estado. E nós estamos vendo isso. Estamos numa encruzilhada seríssima”.

O problema é que grande parte da população brasileira, como mostram as pesquisas, não está vendo nada.

Nada abala a popularidade do presidente

Está cega, surda e muda, como mostrou minha colega Thaís Oyama aqui no UOL em sua coluna de sábado, citando o economista Maurício Moura, CEO da consultoria Ideia Big Data, que monitora grupos de apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais.

Em resumo, nada é capaz de abalar a popularidade do presidente, que decretou o liberou geral, e não foi só para as armas e munições.

Nem o escândalo das rachadinhas, nem o casamento com o Centrão, nem o rótulo de fascista, nem os depósitos de Queiroz nas contas de MIchelle: “O efeito é nenhum”, diz Moura em entrevista à revista Época.

Com a oposição em obsequiosa quarentena e a boiada se esbaldando nas praias, nos shoppings e nos bailes, ligando o f***-se, entramos na normalidade do novo anormal.

Aonde isso vai dar, ninguém sabe, mas a gente imagina.

Bolsonaro corre para os abraços, sem máscara

Pouco importa se as obras que o presidente está inaugurando em viagens pelo país não são dele, mas dos governos de Lula e Dilma, a manchete da Folha de domingo.

Tudo é festa nas comitivas de alegres parlamentares que acompanham Bolsonaro nas viagens em aviões da FAB, no embalo de campanhas eleitorais de 2020 e 2022.

O espinhoso ofício de governar o país foi deixado nas mãos dos generais palacianos e a articulação política fica por conta do Centrão, enquanto Bolsonaro corre para os abraços, sem máscara.

Para garantir a retaguarda, destinou R$ 110 bilhões para as Forças Armadas no orçamento de 2021, depois de dar generosos aumentos nos soldos e penduricalhos dos militares anfíbios que estão no governo.

Fica difícil definir em qual regime de governo estamos estamos vivendo.

É um bundalelê miliciano-militar, abençoado pelos mercados e pelos bispos da grana, tão bem resumido pelo genial Antonio Prata: “Nazistas, assassinos, abusadores de crianças, corruptos, delinquentes e milicianos estão no poder, hoje, no Brasil, em nome da família, de Deus e da liberdade. Amém”.

E qual foi a repercussão? Nenhuma. Chego a pensar que nem adianta escrever mais nada, enquanto a boiada segue feliz para o matadouro, berrando “Mito!”

Quando uma criança é estuprada por uma dessas “pessoas de bem”, são capazes de colocar a culpa na criança, que procurou socorro num posto de saúde — e não foi atendida, como aconteceu de novo no Espírito Santo.

Vida que segue.

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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