“Nostalgia dos militares é imaginária e não tem lugar”-Lilia Schwarcz

“Bolsonaro não precisa de Golpe, ele é o próprio Golpe”

Por UOL
Compartilhado por Central de Jornalismo

A historiadora, professora e escritora Lilia Schwarcz analisou hoje, em entrevista ao programa Roda Viva, que a nostalgia da ala militar é “imaginária” e não tem lugar. Segundo ela, o governo brasileiro cria uma imagem da ditadura militar — que foi de 1964 a 1984 no Brasil — de um passado que não existiu.

“O primeiro governo militar foi um fracasso, tanto Deodoro [da Fonseca] como Floriano [Peixoto] governaram [no século 19] em estado de sítio. Nossa ditadura [que teve início na década de 1960] entregou um estado falido, uma inflação terrível. A nata de 1964, essa que vai sendo espelhada nessa ideia de missão civilizatória, não se realiza”, afirmou.

Para Lilia, o Brasil sempre foi autoritário, por isso a eleição de Bolsonaro não pode ser encarada com surpresa e “essa mística do exército sempre fez parte dessa farsa toda”.

Estamos falando de um governo que faz uma mística da ditadura, chama o golpe de democrático, como se isso existisse, e chama por um passado que nunca existiu. Esse passado é criado por Jair Bolsonaro
Lilia Schwarcz, historiadora

Bolsonaro é o próprio golpe

Ainda falando sobre o presidente, Lilia tem a opinião de que Bolsonaro “não precisa de um golpe [de poder], ele é o golpe”. Para ela, houve uma tentativa de usar a pandemia do coronavírus para fins ideológicos e fortalecer a visão do Executivo.

“Uma tentativa de usar a pandemia para fins ideológicos, políticos, isso sempre acontece. O problema é o uso que faz. O uso que Bolsonaro faz do auxílio emergencial, quando sabemos que a principio era contra o auxílio, o uso que ele faz no sentido de impor um medicamento cuja validade não é comprovada…”, lembrou

“Para o futuro, ninguém é dono, mas me parece que ele vai se aprontando num modelo em que ele não precisa do golpe. Ele é o próprio golpe.”

“1984”

Outro exemplo usado pela historiadora foi da obra clássica “1984”, escrita por George Orwell, que apresenta um governo autoritário cujo líder supremo é o Grande Irmão.

Lilia disse que o livro segue sendo muito atual, principalmente no Brasil do século 21, por mostrar a “paixão que temos pelo autoritarismo”. “Essa imagem que temos do presidente, do grande político como grande pai, é equivocada. O patrimonialismo é um dos grandes inimigos da República”, afirmou.

Para ela, o que temos agora no governo Bolsonaro é uma situação semelhante, já que a suposição de um governo populista é que “ele é a informação e a ciência”.

É o que temos agora, um presidente que prefere dar as notícias aos seguidores, reclama com a imprensa, diz que vai dar bofetada, não respeita a imprensa como um player fundamental.

Guerra cultural do governo

Lilia acredita que a questão racial é grande contradição da democracia brasileira e que a ideia de que a democracia racial é um mito. Isso pode ser visto, de acordo com ela, com o atual presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo.

“O governo está sequestrando as pautas democráticas, não só os símbolos como o verde e amarelo, mas também as pautas, produzindo uma guerra cultura”, disse.

“O que é colocar numa fundação Palmares um presidente que quer acabar com a história dos negros? Nós sabemos que a população negra no Brasil tem dupla morte: a morte física e a morte da memória, o que significa colocar uma pessoa contra essa memória?”, questionou.

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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