Diário da Quarentena-Maior escândalo da Pandemia anda de Ônibus em Porto Alegre

Por Caco Schmitt

Jornalista, roteirista e diretor. Trabalhou na TV Cultura/SP como diretor e chefe da pauta do jornalismo; diretor na Agência Carta Maior/SP e na Produtora Argumento/SP. Editor de texto no Fantástico, TV Globo/SP. Repórter em vários jornais de Porto Alegre, São Paulo e Brasília.

É inacreditável o que foi divulgado há pouco em Porto Alegre. As empresas de transportes coletivos vão ganhar da Prefeitura R$ 39,3 milhões por “perdas durante a pandemia”. Essas empresas alegam que o movimento de passageiros caiu nos primeiros meses do ano. Mas que caras de pau! Que escândalo! Que máfia! Já escrevi que o segmento de transportes coletivo no Brasil é um poço de corrupção, de compra de prefeitos, de governadores, e quem sofre é povo que precisa do transporte coletivo para trabalhar, estudar, sobreviver.
Vamos ver as perdas. A partir de abril, as empresas recolheram os ônibus, reduziram a frota em circulação alegando que o movimento estava caindo. Portanto, reduziram custos. Quando os passageiros começaram a voltar lentamente, as empresas mantiveram o mesmo número reduzido de coletivos circulando. Não se importaram com aglomeração, com a contaminação, com o distanciamento social dentro dos ônibus. Com o crescimento do número de passageiros.
A Prefeitura fingiu que fiscalizava! O povo foi se contaminando porque a flexibilização jogou trabalhadores nas ruas e o número de ônibus em circulação permaneceu o mesmo.
Bom, agora, no começo da primavera, em setembro, a Prefeitura finalmente anunciou que aumentaria ALGUNS horários. Ou seja, desde o começo das quarentenas e do distanciamento social as empresas de ônibus estavam economizando combustível, salários, manutenção etc. E agora cobram R$ 67 milhões. É muita cara de pau! Queria saber como chegaram a esse valor… E o pior é que o prefeito Nelson Marchezan Jr. vai pagar… Alô vereadores de Porto Alegre. Alô Ministério Público! Alô Polícia! Alô!
O mais inacreditável de tudo isso é que houve mediação do Tribunal de Justiça para o acordo judicial entre a prefeitura de Porto Alegre e os consórcios de ônibus da capital, pra “amenizar os efeitos da pandemia no transporte público”. Repetindo: amenizar os efeitos da pandemia no transporte público! O que deveria ter sido amenizado, com interferência da Justiça, é a contaminação de milhares de pessoas que entraram nesses ônibus apertados, sem distanciamento social adequado, passageiros sem máscara. As empresas retiraram ônibus de circulação e, quando o movimento voltou, seguiram com o mesmo número de ônibus. Forçaram os brasileiros a viajar em coletivos infectos, lotados e sem higienização, e agora cobram perdas. É muita cara de pau!
A mídia gaúcha, assim como a mídia brasileira de modo geral, que também ganha dos empresários dos transportes, noticia os fatos sem contestar, sem criticar. Então, lemos notícias assim: “… as concessionárias abriram mão de R$ 27,8 milhões, referentes à remuneração de capital, à depreciação e à remuneração do serviço do período compreendido entre 19 de março e 31 de julho de 2020, competindo ao município arcar com R$ 39,3 milhões”. É um escândalo! Como as empresas são boazinhas por abrirem mão de alguns milhões. Mas, em troca, pelo acordo, “as concessionárias ficam dispensadas, pelo período de um ano, da contratação ou reposição de cobradores para fins de cumprimento da obrigatoriedade de tripulação mínima”. Significa que podem botar pra rua o cobrador sem reposição, ou seja: finalmente estão conseguindo acabar com a função.
Resumo da ópera desse escândalo: os empresários de ônibus de Porto Alegre vão apoiar quem na próxima eleição pra prefeito?

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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