Crônica S/A – Domingo

Vicente Sá

O Domingo é um dia diferente na semana e, por isso, a gente deve falar sobre ele no Sábado, disse o Filósofo, do alto de sua calma sabedoria. E assim, começamos a discorrer sobre este dia tão interessante. Primeiro, ele lembrou que foi o imperador Constantino, em trezentos e lá vai fumaça, que criou o Domingo, para dia de descanso, dia do deus Sol, lá dos romanos na época. E até hoje prevalece, nas línguas germânicas, o nome dia do sol, Sunday.- E por ser Domingo o dia do descanso, o Sábado é tão popular e festeiro. É algo, assim, como o que está acontecendo com a sexta-feira, por conta do Sábado ter se tornado dia de meio expediente. A sexta tá se tornando noite de festa e até virou verbo: sextou.Tia Walkiria interrompeu a digressão do Filósofo para acrescentar que, antigamente, o Domingo era um dia de repouso mas, também, de introspecção, e citou o poeta Mário Quintana que, nos anos cinquenta, aos Domingos, ia, com um amigo, no bonde, para uma estação distante do centro de Porto Alegre, a fim de percorrer com olhos novos um bairro de certa forma desconhecido para eles. Era o Domingo como dia de expansão da alma, aprendizagem e reflexão, citou ela. – E ainda resta a lentidão e o sossego, afinal, antes de virar festa, o Domingo era de descanso. No máximo um passeio à casa de um compadre para, juntos, tocarmos um chorinho, dizia o velho Pixinguinha – garante o Filósofo. Eu acredito e concordo. Lembro a eles dois que já houve tempo em que os Domingos eram sinônimos de piqueniques à beira da praia ou em um parque, como cantava Gilberto Gil.Aqui em Brasília, lembrou tia Walkiria – orgulhosa candanga que chegou aqui em 59 – depois que a Cidade Livre foi sendo esvaziada, os candangos passaram a se encontrar, aos Domingos, na rodoviária, para ouvir os seus sotaques e saber notícias de suas terras. Naquele tempo, ainda se vendia bebida alcoólica na Rodô, disse, com olhos no passado. E continuou: – Ainda nos anos sessenta, a Água Mineral virou point e as famílias iam para lá, levando comidas, toalhas e redes. Eram Domingos lindos. Logo, logo, o passeio ao Jardim Zoológico também se incorporou ao programa dominical brasiliense, mas cada cidade satélite tinha o seu jeito e lugar de comemorar o Domingo.Eu lembrei que, em 1975, quando morei em Taguatinga Norte, o lance dos jovens era rodar a praça do D.I. se paquerando e observando os coroas secando as pernas das moças das mesas dos bares que ficavam em volta.O Filósofo lembrou dos Domingos de Concerto Cabeças, nos anos oitenta, e nós ficamos saudosistas e emocionados, a bebericar uma cerveja com gosto de Liga Tripa. Tia Walkiria olhou pra mim, sorrindo, e comentou:– Nos últimos anos, o grande lance do Domingo foi almoçar no Leão da Serra, não é Vicente? A comida da Lúcia fez história em Brasília. Mas, com a pandemia, isto também nos está vedado. Quem sabe, com a chegada da vacina a gente volte a se encontrar lá. O Filósofo, como não podia deixar de ser, me acusou de merchandising crônico, mas eu vou relevar. Afinal, hoje é Domingo!

Vicente Sá

Administrador

Fonte Segura: Central de Jornalismo

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *