Diário da Quarentena-Os muitos culpados pelo assassinato de João,no Carrefour

Por Caco Schmitt

Jornalista, roteirista e diretor. Trabalhou na TV Cultura/SP como diretor e chefe da pauta do jornalismo; diretor na Agência Carta Maior/SP e na Produtora Argumento/SP. Editor de texto no Fantástico, TV Globo/SP. Repórter em vários jornais de Porto Alegre, São Paulo e Brasília.

Dia 247
20.Nov.2020

O espancamento até a morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, no supermercado Carrefour, em Porto Alegre, na noite dessa quinta-feira, dia 19, é mais um ato da série de violência racial no Brasil. Um crime insano, assassinato cruel e coletivo. Enquanto o racismo não for combatido em todos os níveis, barbáries como essa seguirão acontecendo diariamente nas portarias de prédios, nas escolas, nas lojas, nas ruas, nos supermercados.
A brutal cena dos dois seguranças agredindo João, na frente da sua esposa, me lembrou do filme “Acusados” (1988), dirigido por Jonathan Kaplan e estrelado por Jodie Foster. Uma mulher é violentamente estuprada por três homens em um bar, enquanto outros homens assistem e incentivam o ato. No filme, quem viu e nada fez foi igualmente condenado pelo crime, porque incentivar é também participar. No caso do assassinato de João, as cenas que circulam na internet mostram uma funcionária gravando, como se filmasse um fato qualquer do cotidiano de nossas vidas. Nada fez pra interromper. Mais vídeos e fotos mostram que outros funcionários, ao invés de socorrerem João, tentavam impedir que cidadãos filmassem o crime. São cúmplices! Devem ser indiciados por assassinato também.
Isso é consequência da cultura racista que impregnou o país desde a chegada dos primeiros homens e mulheres escravizados pelos colonialistas brancos. É consequência da eleição de um presidente que faz arminha com o dedo, incentiva o uso do revólver e já foi condenado por racismo porque ofendeu a raça negra, ao dizer: “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais.” É consequência de atitudes de uma socialite que ofende sua diarista que julga ser sua escrava, é a cultura policial que mata diariamente jovens negros. Enfim, esses funcionários do Carrefour são cúmplices do assassinato de João. Todo racista é cúmplice da morte de João. A extrema direita racista é cúmplice da execução de João. E os que, mesmo não sendo racistas, se calam, igualmente são cúmplices dessa barbárie cometida contra um ser humano que apenas foi fazer compras com a esposa! Hoje, em plena calamidade da pandemia do novo coronavírus, ironicamente Dia da Consciência Negra no Brasil, seguimos vivendo a tragédia silenciosa do racismo e não temos motivos para comemorar…

Administrador

Fonte Segura: Central de Jornalismo

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *