Diário da Quarentena-O herói argentino vai descansar

Por Caco Schmitt

Jornalista, roteirista e diretor. Trabalhou na TV Cultura/SP como diretor e chefe da pauta do jornalismo; diretor na Agência Carta Maior/SP e na Produtora Argumento/SP. Editor de texto no Fantástico, TV Globo/SP. Repórter em vários jornais de Porto Alegre, São Paulo e Brasília.

O Herói Argentino vai descansar-Dia 253

Diego Armando Maradona não foi somente um ídolo do futebol, uma personagem polêmica, passional e apaixonante que teve seus passos, glórias e quedas acompanhadas como um reality show global e pioneiro. A nação argentina se despediu hoje de um herói nacional.
Do anúncio da morte até esse momento, em que o corpo está no cemitério depois de um emocionante cortejo de 40 quilômetros, da Casa Rosada ao Jardim Bella Vista, repleto de cenas emocionantes de gente simples da periferia de Buenos Aires se perfilando ao longo da estrada, tenho acompanhado todo o noticiário, lembranças da carreira, ascensão e declínio, dribles, gols e carros de polícia, ambulâncias. Desde o anúncio da morte, vi e ouvi tudo sobre o menino genial, ídolo que sucumbiu ao vício, mas nunca deixou de ser gentil com seus seguidores. E muitas manchetes falam ou tentam explicar que ele trouxe magia ao futebol, foi um gênio irreverente etc. Ora afirmam que como jogador foi um Deus e fora do campo um normal cheio de problemas comuns. Diego pode ter sido só um ídolo de futebol sem igual para os demais países, um deus para alguns fanáticos da sua Igreja Maradoniana, fundada em 1998, mas para toda a nação Argentina: um herói!
Numa dessas coberturas das tevês, o repórter se aproximava da Casa Rosa, um pouco antes da saída do cortejo, e um fã lhe entregou um panfleto. Na metade de cima dele uma imagem de jovens soldados mortos na Guerra das Malvinas; na metade de baixo, Diego beijando a taça da conquista da copa. O texto dizia: DIEGO, VOCÊ NOS DEU ESSA REVANCHE! A referência é clara. No jogo Argentina x Inglaterra, Diego fez o famoso gol “La Mano de Dios” e um segundo genial, deixando para trás um a um dos “soldados” ingleses e, com raiva, colocando bola nas redes. Decretou a vingança e conquistou a adoração do povo que sofreu uma humilhação histórica, desnecessária e estúpida: a Guerra das Malvinas, Falklands War, ou Guerra de las Malvinas, de abril a junho de 1982. A ditadura militar argentina inventou uma guerra pra tentar se manter no poder e enviou jovens para a morte. Soldados inexperientes, com armas ultrapassadas e pesadas roupas de lã, contra soldados bem treinados, equipados e trajando jaquetas com bateria para aquecer. Centenas perderam a vida nessa aventura que mergulhou o país numa depressão. E Diego, com sua tarde de divina inspiração, resgatou o orgulho da Nação quatro anos depois, ao “ganhar sozinho”, como dizem, a copa do mundo. Eliminando os ingleses… Proporcionou uma inesperada revanche ao povo argentino e isso fica para sempre na memória de todas as gerações. Por isso, hoje, a Argentina enterrou um herói. Ponto! Assim entendo a comoção, a loucura que foram essas horas desde a morte até o enterro no Cemitério do bairro Bella Vista, onde estão seus pais. Que descanse em paz o menino pobre que queria jogar bola, encantou a todos e virou herói de milhões por todo o mundo!

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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