171, uma filosofia de vida-Por Grace Maya

Semana passada, me pegaram de surpresa com o tema de sequestrar meu Whatsapp, estava escrevendo o artigo e no meio da tensão, de escrever sobre o complexo tema do bandido, que até então não tinha sido capturado e exterminado, e com ele a verdade da história, fui pega numa fraude! Há! Meninn! Ai gente,….péra, … vamos combinar: que azar deles, né!

Por Grace Maya
Central de Jornalismo
05 de julho de 2021

Deu tudo certo ao final, ninguém caiu no golpe e na segunda-feira, eu já tinha o trem funcionando de novo, seguimos a vida, tentando ficar mais espertos na parada! Ninguém é mala o suficiente para não cair numa fraude, uma fraude bem feita, te pega e depois você fica vendo a vida em flashbacks uma semana! Por isso, passei a semana pensando no tema da falsidade. No meio de tudo, uma frase se repetiu ao longo das conversas que tive, sobre o episódio, “aumentou muito o tema das fraudes”!
A fraude nunca é como nos filmes, super elaborada e cheias de detalhes. Uma fraude boa, é simples e se baseia em dois ou três pontos de fraqueza de uma relação. É como no kung fu, você só usa os pontos frágeis do movimento, algo de timing e algo de confiança. Eles me pegaram muito ocupada, o timing perfeito, e usaram um nome de confiança, um perfil que tinha acabado de acessar, o resto não importa. O resto é narrativa, e a narrativa pode ou não ser verossímil, mas se é muito limpa nos nexos-causais, é a típica da matrix, caímos mesmo, isso porque vivemos submergidos em um mar de farsas, que fingimos não ver, e resolvemos rápido o mal estar de cada mentira com um sorriso ou um emoji, num loop de falsidades!
Os bandidos, os estilo 171, sabem muito bem disso, não porque são neurocientistas, mas sim, são pessoas que podem escolher fazer o que quiserem na vida! Eles podem tudo porque são bons no trato, na conversa, sabem falar o que queremos ouvir, na hora que queremos ouvir, que com o tom voz que gostamos de ouvir, …..tudo clichê, o famosos clichê cinematográfico, o tópico, tudo típico, tudo claramente falso. Por isso, eles poderiam vender apartamentos, quadros caros ou cobertores térmicos para galinhas, mas por motivos desconhecidos, resolveram ser 171. Me lembrei de vários filmes, o do Leonardo DiCaprio que ele chega a ser piloto de avião, e outro filme clássico é o F de Falso do Orson Welles, que trabalha a falsidade no extremo onde o filme todo te coloca em dúvida sobre todas as verdades e ao final, não há como saber nada, fica a dúvida, e assim é a vida! O mais doido é que às vezes, o falso é mais verdadeiro! Porque assumir a falsidade é uma sinceridade praticada por poucos! Mas, tá difícil de entender tudo! Infelizmente vivemos tempos em que a direita facista quer ditar meia dúzia de frases-verdades e com isso determinar tudo que é certo e errado, e ao final, ter claro e em poucas linhas toda A Verdade do mundo ! E aqui a falsidade toma força e vira estilo de vida!
É aqui que a representação torna-se manipulável e de interesse do Estado, já falamos disso quando falávamos de cinema, é uma forma de nivelar as opiniões, fazer todo mundo pensar que o messias é um um idiota inépto como esse que temos, realmente é um poder de manipulação incrível, uma fraude como essa, devia ganahar o Oscar!
Vai vendo, que é aqui que está o problema, é em como percebemos a vida que o Estado consegue garantir a construção social da verdade. O que realmente acontece X o que percebemos depende de uma construção “da sua opinião”, sim, se você acha algo bonito, essa é sua percepção, mas é uma percepção construída nesse espaço, nesse momento, se for outro país e outra época pode ser que nem exista uma palavra para isso, mas ao que vamos é que o uso dessa característica da percepção, de forma conscientemente enganosa, nos dias de hoje alcança patamares nunca dantes delirados!
Como “petits souvenirs” retirados da memória, tudo que lembramos flutua em nossa consciência como representação, uma imagem,entende? Então vamos começando a ter uma opinião, que é a mistura do que sentimos e o que copiamos, a parte de copiar é mais fácil, então a maioria das pessoas copia, para sempre, então viram gado, e a matrix usa isso a seu favor, cotizando essa previsibilidade na bolsa de valores. Temos uma imagem de tudo no mundo e de nós mesmos, que é particular sempre, só que não, aqui tá o pulo do gato: é sua, mas não é! Se você não se ligou disso, aí que é menos sua, entende? E aqui é o tema da fraude, timing e confiança, está em uma coca-cola, em uma marca qualquer que te facilita escolher, tudo na vida capitalista está cheio de pequenas fraudes que aceitamos como normal.
A sociedade exige que se hegemonizou a percepção, te vendem com o nome de “segurança”, segurança que eles precisam ter que você vai comprar o biscoito esse mês, e assim eles monetizar sua ação, sabe, se todo mundo pensa que vê o mesmo, eles podem controlar as a imprevisibilidade, eles estão apostando que você amanhã vai comprar esse biscoito ou sim, ou sim. Segurança, né! E é assim que o bandido um 171 trabalha, em menor escala, não cotiza sua ação na bolsa, mas trabalha igual a um CEO do mercado financeiro.
E aí entra a direita pra dizer como fazer isso bem, na verdade entra a igreja e o Estado para te dizer como ser uma pessoa previsível, para que a fraude ande bem, e essa previsibilidade é bem vista por eles e a imprevisibilidade punida nada menos com o inferno eterno. O segredo é a perfeição desse processo, vulgo capitalismo. O certo é que sempre A Verdade é institucional, e para justificar isso contam uma história do passado, daquele jeitinho, que favorece ao patriarcado e suas respectivas representações. E seguimos caindo nessa fraude, a fraude da salvação e a fraude da democracia.
A memória portanto não é, nem pode ser consciente, a memória é um mar de informações não reconhecíveis, para eu lembrar, eu preciso de uma imagem, a imagem sim é consciente! Então concluo que: como eu lembro assim, então é a única coisa que existe! Mas aí segue…. como eu lembro, ou como o major lembra, ou como o coronel lembra, ou como o macho da esquina lembra, ou como o exército lembra, como o fazendeiro lembra, ou como Capitu lembra, ou como a bíblia lembra, assim a representação toma de lugar de absoluta importância na construção moral que fazemos enquanto sociedade e a questão da falsidade um problema de natureza elementar.
É por isso que o Estado, aliás todos os Estados buscam se apropriar de nossas recordações para inserir em nossa recordação algo que produza um certo sentido e controle nosso sentir e direciona nossas ações para algo previsível. A ideologia, de gênese liberal, então fascista, agora neoliberal, o termo não importa, prioriza a constituição de uma memória ou melhor, a imposição de uma memória específica, negando ou manipulando assim a memória múltipla que faz a história. Melhor ainda: trata-se de transformar a história em uma narrativa simples e linear já despojada de toda a multiplicidade afetiva da memória. Somente tirando o afeto, a forma que cada um sente, posso homogeneizar a verdade, se tiro o que você sente, o que eu sinto, e substituímos pelo o que deveríamos sentir, eu consigo dizer que somos iguais, okay, Aristóteles na veia!
Assim nasce a fraude, ahammm, parece que estou viajando, mas num é, é que tudo tá ligado na mesma coisa, é uma fraude convencer alguém que essa história justifica tal coisa, qualquer coisa. É terrível! Posso até dizer que é possível que você diga qualquer palavra do dicionário, que eu te diga a relevância dessa palavra no cenário político! O bandido que engana sabe o ritmo certo, o tom de voz certo, o olhar certo, o lado certo,saber usar as palavras certas! Sim, é tudo falso, mas perfeito, dentro da minha percepção trabalhada pelo Estado, clichês, e foi assim que o bandido me enganou! Me enganou! Ele fez o que eu esperava dele enquanto representação, meus preconceitos, minha falta de afeição,me leva a acreditar em uma farsa, e eu fiz o previsível, ele sabia que eu ia fazer isso. Quando esquecemos de pensar e negamos nosso sentir, estamos vivendo automatizados, controlados por uma série de recordações manipuladas pelas instituições para te dizer o que fazer, aí, bem aí, você está sempre caindo em uma fraude, pior, chega uma idade que você é uma fraude e colabora com todas as fraudes, porque estão todas conectadas entre si. Só existe uma fraude, e essa fraude é a crença nA Verdade, com V maiúscula!
As relações de causa-efeito simples e diretas entre todos os elementos de uma realidade destroem, aniquilam, assassinam o múltiplo! A linearidade destrói a complexidade dos processos histórico-sociais e a complexidade humana até transformá-los em uma caricatura burlesca, uma grande fraude Todos os males históricos são complexos, de uma memória difícil de evocar, mas acabam sendo reduzidos a uma única linha de memória causal.
A falsidade e a confiança são modelos de relações humanas demasiadamente humanas. Nossa civilização tem pilares fortes baseados na confiança, coisas normalizadas e do cotidiano, algo normal de fazer, como: dirigir, ir ao médico, manejar dinheiro, tudo isso depende estritamente da confiança. A falsidade já é um tema tratado por Platãozito! Ele não curtia o teatro porque era falso! Ai gente, eu ia tirar esse parágrafo, mas me dei conta que Platão nos meus textos é igual ao Ruivo Hering do Scooby Doo! Sempre é culpa dele, ou pelo menos para começar a culpa é dele! kkkkk Mas a confusão aqui é a falsidade na arte! Claro, a arte que pretende dizer a verdade, a arte cheia de moral, a arte que favorece o discurso neo-facista, é uma arte que não abarcou o múltiplo da existência, é uma arte que pretende igualar os olhares, arte pobre, que não cria dúvida, que só afirma, infelizmente o cinema é a arte mais contaminada de facismo.
Aqui que eu queria chegar, bem na época dos defensores da verdade no poder, é bem a época que poderíamos dizer que é visível o aumento da falsidade? Digo, especulando, ou seja, será que estão piores as fake news? Têm mais estelionatários hoje? Tem mais hipocrisia? Houve aumento das fraudes? o aumento de teorias como a terra redonda? ou mentiras sobre o passado histórico? Como negar a ditadura ? Ou negar os absurdos cometidos pelo facismo? pelo nazismo? Não sei se aumentou, mas o mais estranho de tudo é a facilidade e falta de vergonha de serem pegos como mentirosos! Talvez isso seja mais intenso !
Nesse episódio da semana passada, o bandido não contava com uma variável incomum: eu! (risadas maléficas) Como eu não entro no padrão de previsibilidade de comportamento na segunda parte do plano, a parte da fraude que dependia disso furou, ninguém acreditou que “Grace está mandando uma mensagem pedindo dinheiro” ! Nam, eu não sou desse tipo,né gente! Primeiro não sou do tipo de chegar a precisar de pedir dinheiro de amigos, porque todos sabem que sou uma burguesa apesar de estar sempre sem grana, mas não chego a esse ponto, e outra, se eu fosse pedir, começaria fazendo um gráfico com possibilidades devidamente hierarquizadas, algo em ordem como família, melhores amigas, um gráfico de possibilidades financeiras, uma hierarquia muito metódica obviamente, feita pelo saturno e marte em Virgem! Depois, eu ligaria para pessoa, uma chamada de vídeo e contaria uma história nos meus famosos chats de 3 horas, e não seria nada constrangedor e absurdo, seria altamente justificável, nada haver algo como alguém pedindo dinheiro domingo à noite por mensagem de whatsapp. Assim, preservar um pouco de imprevisibilidade no seu caráter primeiro salva a sua vida, ao contrário você está morto e não sabe, e de passo, ajuda a fazer tudo menos viável para essa galera que aposta em você sem cérebro!
Até quando vamos seguir ouvindo frases como: “Só a verdade o libertará” ou “Você jura dizer a verdade, só a verdade e nada além da verdade?”Ou “Você será o que deveria ser ou não será nada”. É assim! Ainda estamos impregnados desse platonismo, ainda buscamos um ponto de chegada, uma essência, uma definição do Ser. Mas as almas, como as águas, estão sempre em fuga, e deveríamos estar todos sempre em fuga, saindo do normal, do esperado, saindo do que esperam de mim, como filha, como cidadã, como mulher, como isso, como aquilo…basta de tanta farsa!
A memória é o tesouro mais precioso de um povo, mas também sabemos que é objeto de controle do Estado, e este por sua vez conta outras historinhas, e essas historinhas por sua vez são validadas por outras historinhas mentirosas, mas que são verdade dentro dessa diegesis criada por eles, eles criaram a cosmogênesis do Universo, a farsa agarra desde quando não existia nada, para seguir essa farsa se necessita pessoas boas em cometer fraudes, o que faz com que essas profissões se popularizem-se, e tomem outros nomes, os pastores viraram coachings, o bandido se tornou influencer, e por baixo de tudo, como raízes grossas e profundas está a hipocrisia!
Nossa hipocrisia é que alimenta tudo isso, a hipocrisia de cada um, a hipocrisia resultado de uma ética baseada em uma moral homogeneizante, castradora, antinatural, pior! Uma falsa moral! Mas essa falsa moral é a seiva dessa árvore que cresce diante dos nossos olhos. A volta do facismo é sim um aumento de fraude! É um absurdo lógico, tratado com muita lógica e previsibilidade, era previsível que as pessoas estivessem com tanta sede de sangue! Por dios! Que vida é essa? Que ódio é esse? De onde vem isso? Vem da repressão mesmo! É uma reação à violência da homogeneização, são os caretas, que obedecem e depois ficam cheios de ódio! Ser honesto consigo mesmo, ser honesto consigo mesmo, é liberdade, é vida saudável e é o melhor que uma pessoa pode fazer em termos políticos! Essa é a grande revolução possível nos nossos tempos, a micro revolução, que está nas nossas micro ações, micro decisões, micro ações! Uma micro honestidade já é suficientemente imprevisível para mudar o rumo da nossa história, mas sim depende da força e do caráter de cada um, esse nível de honestidade depende de cada um lutar por sua própria liberdade de pensar !

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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