A frente ampla dos “interésses” – Na garupa do golpe veio Bolsonaro e na dele a velha direita.

Por Marcelo Pires para o Central de Jornalismo

É uma tragédia que a derrota do projeto fascista e liberal acoplado a Bolsonaro tenha por método e instrumento a tentativa de dividir a esquerda e colocar no poder um liberal travestido de trabalhista com alianças na velha, corrupta e rapineira direita.

O objetivo dessa manobra é tornar palatavel o já em andamento projeto liberal que destrói o estado e submete definitivamente sua estrutura ao mercado, por meio de uma liderança menos fantasmagórica, caricata e escrota, e, que venha a cumprir de forma mais eficiente as relações com os poderes para implantar definitivamente o modelo liberal no país, coisa que Bolsonaro tem encontrado imensa dificuldade por conta de sua incapacidade, apesar de Guedes fazer seu trabalho e do apoio que Bolsonaro tem no congresso dominado pelos seus aliados do DEM ao Centrão.

A velha direita (dos interésses) costuma construir, alisar, e dar espaço para líderes que se submetam a essas artimanhas. Colocam a disposição suas forças na mídia e na cooptação de parte da classe média e constroem a aceitabilidade de quadros que são mais assimiláveis por seus interesses.

Foi assim com Marina que teve seus milhões de votos em 2014 e depois se aliou a Aécio, mas na eleição de 2018 simplesmente sumiu. A direita usa e abusa dessas lideranças e quando não mais interessam ou não são mais necessárias ao projeto de dividir a esquerda, são descartados por seus patrocinadores.

A bola da vez agora é outro. Saído em terceiro nas urnas de 2018, (votação similar a que teve Marina em 2014) tendo capturado votos na esquerda sem convencer o contingente de direita, absorvendo ainda parte da classe média, o fortalecimento de um nome para a centro direita teria por objetivo promover uma conversão do apoio eleitoral à direita podendo levar a um segundo turno em 2022 entre a direita e a centro direita (como já aconteceu em alguns Estados na eleição de 2018), absorvendo a votação que teve Bolsonaro em 2018 e deslocando a extrema direita para a direita e a direita para a centro direita.

Essa “nova” configuração seria a volta da força política que elegeu FHC em 1994. Seria a volta da política liberal daquela época de privatizações, arrocho salarial, seria a volta triunfante de FHC, Aécio, Aloisio, Serra, Alkimin, derrotados em 2002, 2006, 2010, 2014, que se aliaram ao golpe em 2016 mas não levaram, tentaram nas urnas em 2018, mas estavam mortos, e, lutando contra o banimento definitivo tiveram que convergir com Bolsonaro.

Cada dia a tática fica mais clara. Mas o jogo está valendo e cada um tem sua estratégia. Todavia é uma lástima ver o trabalhismo servindo de pelego (como bem dizia e diria Brizola) para a velha direita e seu projeto liberal, pior ainda é ver um líder trabalhista e seu partido subordinado a políticas e a agenda no congresso que aprova pautas que ofendem aos trabalhadores, como vimos na reforma da previdência, reforma trabalhista, e na recente votação da privatização dos sistemas de água e esgoto.

Mas vamos em frente! Estamos no estágio intermediário e vamos ver como fica o cenário com a eleição municipal para depois fazermos a disputa de 2022, se ela for possível, pois a capitulação das lideranças atuais ao fascismo, no jogo de “sou contra o presidente” mas “não sou contra o governo” pode jogar o país em um abismo mais profundo do que este em que fomos jogados desde 2016 e para o qual muitos salvadores que aí estão nada fizeram para evitar. Pelo contrário, muitos contribuíram de forma direta com o golpe que trouxe na garupa Bolsonaro enquanto outros contribuíram se eximindo na hora em que deveriam estar aqui apoiando um projeto popular e democrático.

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