A queda do maior genocida da história moderna se aproxima

Quem vai capitalizar a queda de Bolsonaro?

Por Gustavo Conde

“A queda de Bolsonaro será como derrotar o nazismo. Terá um impacto gigantesco na reestruturação da história do país. Quem estiver do lado ‘vencedor’ terá uns 50 anos de perdão e ficará bem na fita como nunca antes na história deste país”

Moro no Fantástico foi uma decepção? Mas quem esperava que seria um espetáculo?
Só se Moro usasse algum tipo de droga para sair daquela fleuma fono-claudicante e daquela confusão mental que lhe caracteriza o discurso.
Sergio Moro parece fritar no medo tenebroso da própria insignificância que lhe acompanhará até a cova.
Mas isso não é importante.
Moro sempre foi assim e destruiu a economia brasileira inteira sendo assim.

Quem subestima Moro, subestimou Bolsonaro, subestimou o golpe, subestimou o coronavírus, subestimou o raio que o parta.
Há um esporte retórico no Brasil que poderia ser decifrado por um livro intertextual a la Mário de Andrade: “Subestimar, verbo intransitivo”.
A angústia crítica faz parte da minha angústia teórica: tentemos ser um pouco mais estruturalistas e menos psicologistas.
O movimento de ontem foi Globo/Moro. E é um movimento de reposicionamento.
Globo e Moro sabem que Bolsonaro não vai durar muito tempo (o Brasil não submisso sabe). Negar isso é subestimar (de novo) os sinais evidentes da história e do cenário político.
Presidente com 25% de aprovação antes da metade do mandato, escravizado pelo centrão, com a polícia federal no cangote, não pode ter um futuro, a não ser um futuro fora do governo.
Claro que o Brasil não é para amadores, mas é bom ainda termos – ou forjarmos – uma mínima relação com a realidade.
Está mais do que evidente que o Brasil não suporta mais Bolsonaro, de A a Z. Sua “base” de apoio é de minguados imbecis que ignoram qualquer espécie de noção do “porquê estão ali”, criaturas que perderão a memória no exato segundo em que seu ‘esteio imoral’ naufragar na lama.
O processo agora é quem vai capitalizar sua queda.
Por isso, dentro da própria esquerda – mais irresponsável – há brigas pelo protagonismo do momento. Todos querem debutar com a cabeça de Bolsonaro nas mãos.
Na direita, idem – mas como a direita é estruturalmente sem caráter, a disputa pelo protagonismo é quase uma ‘união’.
Estamos prestes a assistir o surgimento de uma nova estrutura político-partidária no Brasil pós-Bolsonaro.
Depois do horror, a restauração.
O movimento Globo/Moro responde a isso. Quem irá herdar o Planalto depois dessa catástrofe?
Moro, dentro da sua dramática falta de vocação oratória, é um desses candidatos. O discurso anti-corrupção começa a dar as caras mais uma vez, depois do enterro da Lava Jato.
Esse é o ponto importante da entrevista-teatro de ontem: ‘Bolsonaro não quis combater a corrupção’, disse um Moro lamentoso e cinicamente triste – diante de uma Poliana Abrita treinada pela teledramaturgia jornalística da Globo a cravar uma expressão mortífera de séria.
Que se atenha mais ao texto do que às pessoas.
O texto é o protagonista.
E o texto é derrubar Bolsonaro por corrupção, repetindo a história, não como farsa, mas como história de fato (a farsa foi contra Dilma), numa inversão do clichê marxista.
Alguém aqui pensa que lidar com os sentidos e os clichês da cultura de almanaque historiográfica é fácil?
Fato é que há uma fila imensa de punguistas, oportunistas, paraquedistas e, pasmem, militantes engajados com projeto de país, esperando para surfar na queda do maior genocida do mundo moderno.
A queda de Bolsonaro será como derrotar o nazismo. Terá um impacto gigantesco na reestruturação da história do país. Quem estiver do lado ‘vencedor’ terá uns 50 anos de perdão e ficará bem na fita como nunca antes na história deste país.
A luta agora é essa: quem vai capitalizar melhor o decaimento da besta.
O day after de Bolsonaro não será fácil. Teremos Moro, Doria, Witzel, Huck, Ciro e toda a sorte de empresários arrependidos padecendo de amnésia política.
A esquerda – responsável – mal se moveu nesse processo todo. Está onde sempre esteve: foi contra Bolsonaro desde o primeiro segundo de seu primeiro mandato como deputado.
A complexidade do momento, ademais, tem contornos de crueldade: a queda de Bolsonaro deixará a esquerda muito forte e é isso que essa legião de oportunistas arrependidos quer impedir.
Nesse sentido, renovo meu apelo: a esquerda precisa parar de ser personalista e voltar a ser mais ‘estruturalista’, mais prática, mais responsável, mais Lula.
O momento presente é a típica situação em que basta não errarmos para acertarmos.
É pedir muito?

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