A vida do meu filho foi ceifada pela crueldade da PM, diz pai de estudante

“Foi o pior dia da minha vida, desde a madrugada quando me chamaram e avisaram que meu filho tinha sido baleado”, disse o médico Julio César Acosta cerca de 15 horas depois de perder um dos três filhos, Marco Aurélio, baleado por um PM na zona Sul de São Paulo.

Julio e a esposa, mãe de Marco, são peruanos e naturalizaram-se brasileiros há cerca de trinta anos, quando mudaram para o Brasil. Marco Aurélio estava no quinto ano de Medicina na Universidade Anhembi Morumbi e morreu depois de ser baleado por um PM na madrugada da última quarta-feira (20). Ele é o mais novo entre os três filhos do casal.

Entenda o que se sabe sobre o caso do estudante morto pela PM de SP
A versão da PM, única revelada até agora, é de que os policiais foram atender um chamado no hotel e encontraram Marco bastante alterado e agressivo e que ele teria resistido à abordagem policial, entrando em vias de fato com a equipe. Eles dizem ainda que entraram em confronto com o jovem, que tentou pegar a arma de um dos policiais, quando foi baleado.

As imagens de uma câmera de segurança do hotel mostram dois PMs indo atrás do rapaz. Um deles segura uma pistola com a mão direita e pega Marco pelo braço com a mão esquerda. O jovem então consegue se desvencilhar.

Outro policial chega e tenta chutar o rapaz, que empurra a perna do policial, que cai no chão. Nesse momento vem o disparo que acerta o estudante de medicina, que aparece sem camisa na gravação. A cena tem menos de trinta segundos e, por ela, não é possível entender o motivo da briga.

“Ninguém me tira a ideia de que esses policiais covardes agiram por maldade, sadismo, xenofobia, preconceito, por meu filho ser um pouquinho baixo, de tez um pouquinho morena, e eles devem ter achado que era um estrangeiro, com certeza”, afirmou Julio Cesar.

“Meu filho está no quinto ano de medicina, amanhã no congresso de clínica médica em Barueri, ele tinha um tema para apresentar. Estava empolgado, alegre, só faltava um ano e tiraram a vida dele”, completou o pai do estudante que fez 23 anos em outubro.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou que “as polícias Civil e Militar apuram as circunstâncias da morte” e disse que “os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações”. Marco foi socorrido ao hospital Ipiranga, mas não resistiu.

“Cheguei a ver meu filho na emergência, chocado, pedindo ajuda, pedindo que eu, seu pai, auxiliasse a ele. Depois, quando fui reclamar a eles, apareceram 15, 20, policiais com quatro carros, cada vez que eu queria falar algo, todos seguravam as armas, como se eu fosse um Rambo, e ninguém me ajudava”, contou o pai do jovem.

“Depois apareceu um capitão dizendo uma versão oficial de que meu filho havia começado, que meu filho brigou, que foi legítima defesa. E eu falei: como é possível, se meu filho é estudante de medicina, ele é um bom rapaz, sempre joga bola comigo, para sempre em minha casa… E depois, às sete horas, quando morre meu filho, somem todos os oficiais, ninguém mais me dá a cara. Fico sozinho no hospital para que me dessem um [atestado] provisório de óbito”, afirmou.

O pai reclama ainda que os policiais não deram informações sobre a distância da arma para o filho no momento do tiro, o modelo da arma ou a trajetória da bala, o que poderia auxiliar a cirurgia, segundo ele.

“Eu sei que eu não vou poder recuperar meu filho nunca, mas [eu queria] pelo menos justiça, honra, um pedido de perdão, o reconhecimento da gravidade do que aconteceu, um conforto”, diz o pai de Marco Antonio.

Fontes: UOL e CNN

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