As aglomerações feitas por Bolsonaro mataram muita gente, diz Otto Alencar

O senador Otto Alencar (PSD-BA), membro da CPI da Covid, acredita que o presidente Jair Bolsonaro deverá responder ao menos duas acusações que recairão sobre ele: a de omissão na compra de vacinas e o incentivo à imunidade de rebanho.

Por Alisson Matos/Carta Capital
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Central de Jornalismo
16 de junho de 2021

Em entrevista a CartaCapital na terça-feira 8, logo após o depoimento do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na Comissão, o senador afirmou que as ações do governo federal durante a pandemia se configuram em crime contra a humanidade.

“Essa história do Bolsonaro andar sem máscara e estimular aglomeração fez com que muitas pessoas morressem. E, não tenha dúvidas, esses órfãos e essas viúvas vão aparecer. As aglomerações aumentaram muito a disseminação da doença”, disse o parlamentar.

“As 500 mil mortes vão levar à apreciação de um relatório que não deixará dúvida de que a ação errada de dar medicamento ineficaz e a omissão de não comprar vacinas vão responsabilizar o governo”, acrescenta.

Na avaliação do senador, nem a tentativa de alguns depoentes, como o ex-ministro Eduardo Pazuello, de assumir toda a culpa livrará Bolsonaro do relatório final.

“Vamos encaminhar para a Procuradoria-Geral da República, para a Corte em Haia e para a Câmara dos Deputados porque alguém vai ter que pagar por essa situação de óbitos em série”, afirma.

Na conversa, Alencar descarta a prorrogação da CPI e explica o motivo para a não quebra dos sigilos do vereador Carlos Bolsonaro.

Leia outros trechos da entrevista:

CartaCapital: O segundo depoimento do Queiroga foi melhor do que o primeiro?

Otto Alencar: O [depoimento do] ministro evoluiu porque no primeiro ele não foi tão incisivo quando falou da ineficácia dessa medicação que eles chamam de tratamento precoce. Agora, ele disse que realmente não tem eficácia e fez um contraponto grande com o presidente. A situação dele é desconfortável pois ele confessou que sempre busca que o presidente siga as normas de saúde, mas o presidente não segue. O passivo que ele pegou, o pepino que o Pazuello deixou não dão. Ele está sufocado ali.

Uma outra questão é a ampliação do intervalo [na aplicação] das vacinas da Pfizer. A bula é clara e fala em até 28 dias e ele falou quatro meses. Entre a primeira dose e a segunda, se você tiver contato com um portador da doença você se contamina. Me parece que ele, por não ter lido a bula, adotou uma norma interna de 90 dias entre as duas doses.

CC: Numa análise mais geral, dos depoimentos recentes, o senhor acha que é possível chegar ao presidente?

OA: O [Eduardo] Pazuello e a [secretária do Ministério da Saúde] Mayra Pinheiro assumiram a responsabilidade sobre tudo. Ele passou o depoimento puxando a responsabilidade. Nas reuniões do gabinete das sombras, ele não comparecia. O gabinete se reunia, mandava as ordens e ele cumpria. Foi um instrumento e certamente será responsabilizado.

Ele assumiu a responsabilidade da imunidade de rebanho, a falta de oxigênio, do kit intubação e das vacinas para livrar o presidente. Mas as 500 mil mortes vão levar à apreciação de um relatório que não deixará dúvida de que a ação errada de dar medicamento ineficaz e a omissão de não comprar vacinas vão responsabilizar o governo.

Vamos encaminhar para a Procuradoria-Geral da República, para a Corte em Haia e para a Câmara dos Deputados porque alguém vai ter que pagar por essa situação de óbitos em série.

CC: Há o risco do Bolsonaro sair impune?

OA: Apesar do Pazuello comprar a briga para livrar o presidente, eu não vejo como ele não responder pelos atos. Sobretudo o crime de omissão ao não comprar vacina e de incentivar a imunidade de rebanho. Essa história do Bolsonaro andar sem máscara e estimular aglomeração fez com que muitas pessoas morressem. E, não tenha dúvidas, esses órfãos e essas viúvas vão aparecer. As aglomerações aumentaram muito a disseminação da doença.

CC: E a quebra do sigilo do Carlos Bolsonaro vai acontecer?

OA: Ele está excluído da convocação e da quebra de sigilo, porque estamos preocupados em não dar ao Bolsonaro o discurso que ele espera, de que estamos fazendo política na CPI. O Carlos Bolsonaro pode ter participado do gabinete paralelo, mas quem estava sentado na cadeira de Ministro da Saúde, de secretário executivo, diretor, todos esses caras têm que ser responsabilizados. Quanto ao Carlos, só se tiver um caso muito grave.

CC: Sobre a intervenção que o senhor fez no depoimento da Nise, o senhor acha que foi agressivo?

OA: Não fui em momento nenhum. Sempre me dirigi a ela como ‘senhora doutora’ e ‘vossa senhoria’. Agora, como você faz uma pergunta e ela quer responder outra? Aí eu interrompi. Ela estava perdida com aqueles papeis todos. Ela não tinha conhecimento da doença para poder dar orientação ao gabinete das sombras.

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