Bomba na CPI abala aliados

Irmãos Miranda entregam o que prometeram para a CPI

Por Matheus Pichonelli/Yahoo Notícias
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Central de Jornalismo
26 de junho de 2021

Jair Bolsonaro prometeu restaurar e reerguer a pátria em seu discurso de posse.

A pátria, quase três anos depois:

Um deputado da sua base acusa o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), de estar por trás de uma compra suspeita envolvendo uma offshore para importação da vacina indiana Covaxin.

Em seu depoimento à CPI da Pandemia, o depoente, Luís Miranda (DEM-DF), apareceu com um colete à prova de balas, uma Bíblia e seu irmão, funcionário concursado do Ministério da Saúde, para atestar seu relato.

Disse aos senadores que avisou o presidente e seu então ministro Eduardo Pazuello sobre a suposta falcatrua.

Um teria prometido acionar a Polícia Federal, mas alertou que colocar o pé na janta de seu aliado no Congresso poderia dar ruim. O outro mostrou resignação e avisou que em breve deixaria o cargo. Deixou. Não sem antes, em seu discurso de despedida, mandar em público uma mensagem cifrada sobre lobbies e pedidos de pixulés em seu gabinete.

Na sessão em que Luís Miranda deu mais pistas sobre os caminhos de supostos lobistas e pixulés, o advogado da família Bolsonaro, Frederico Wassef, foi visto nos corredores do Senado, como se estivesse passeando por acaso pela Praça dos Três Poderes numa sexta-feira à noite. Lá, ao ter a presença anunciada, precisou se trancar no banheiro. Feminino.

Era o mesmo advogado que abrigou em seu sítio em Atibaia o amigo e faz-tudo da família Bolsonaro, Fabrício Queiroz, sumido do mapa desde que foi acusado de envolvimento no caso das rachadinhas.

Queiroz

Na casa do advogado policiais encontraram um cartaz do AI-5 e uma réplica de Tony Montana, bandido interpretado por Al Pacino em Scarface.

Queiroz era suspeito de planejar uma fuga com a mulher e a mãe de um miliciano foragido que dias depois seria morto em uma troca de tiros com a polícia na Bahia.

Elas trabalhavam no gabinete de Flávio Bolsonaro em seus tempos de deputado na Assembleia Legislativa no Rio.

Durante o depoimento do novo desafeto, um entre tantos de uma fia que já tem nomes como Sérgio Moro, Luiz Henrique Mandetta, Alexandre Frota e grande elenco, o filho 01 do presidente apareceu num telão dizendo que não tinha relação com a empresa intermediária da compra de vacinas.

Fim da corrupção?

Hoje senador e proprietário de uma mansão de R$ 6 milhões em área nobre em Brasília, ele disse apenas que participou de uma reunião em que um representante da companhia pedia dinheiro ao BNDES. O mesmo banco de fomento que sua família acusava de se servir de uma caixa preta para beneficiar aliados nos governos anteriores.

Quem ainda não perdeu a capacidade de ligar os pontos já percebeu que o combate ferrenho à corrupção foi a maior fake news de um governo de amadores.

Em pouco tempo, acumulam-se suspeitas sobre exportação ilegal de madeiras, compras estranhas de laptops para escolas públicas e agora, de importação de vacinas. A grande pergunta que fica é como Bolsonaro reagirá à acusação. Saíra em defesa de seu líder sob o risco de ser desmoralizado pelas investigações? Ou vai jogá-lo na estrada, como tantos, sob risco de perder a base que ainda o sustenta no Congresso via centrão?

Os depoimentos dos irmãos Miranda à CPI mostraram por que tanto temiam os senadores governistas, que perderam a mão até na acusação de que estavam diante de uma”narrativa da oposição”. Miranda era governo até ontem.

O ex-Bolsonarista hoje teme por sua vida e questiona que presidente é esse que não toma atitude diante de uma compra suspeita de corrupção. Uma compra que trazia ao país vacinas perto do vencimento, com ordem de pagamento para outro endereço, e com valores acima do que previa a entrega.

Os aliados do presidente reagiram aos berros. O líder do governo no Senado era o mais exaltado deles. Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) acaba de ser indiciado pela Polícia Federal por supostamente receber R$ 10 milhões em propina de uma empreiteira quando era ministro de Dilma Rousseff.

Menos de três anos após seu discurso de posse, Bolsonaro de fato mudou o país. Para pior.

Já são 510 mil mortos na pandemia.

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