Na noite de segunda-feira, 2 de junho de 2025, o Partido dos Trabalhadores realizou o primeiro debate entre os candidatos à presidência nacional da legenda. O encontro, transmitido ao vivo pela TVPT, reuniu Edinho Silva, Romênio Pereira, Rui Falcão e Valter Pomar — quatro nomes com trajetórias distintas dentro do partido e propostas que evidenciam diferentes visões sobre os rumos da sigla e sua relação com o governo federal.
O debate faz parte do Processo de Eleições Diretas (PED), marcado para 6 de julho, e teve como foco apresentar aos filiados e à militância as propostas dos postulantes que disputarão a direção nacional do PT até 2029. Em três blocos principais, os candidatos debateram temas como conjuntura política, relação com o governo Lula, estratégia eleitoral e os desafios organizativos do partido.
Críticas à condução econômica do governo
O primeiro bloco do debate foi marcado por críticas à política econômica do governo federal. Rui Falcão, ex-presidente do PT e atual deputado federal por São Paulo, foi direto ao afirmar que “petista não vota em perda de direitos da classe trabalhadora”. A declaração se referia ao recente pacote de cortes de gastos apresentado pelo Ministério da Fazenda, conduzido por Fernando Haddad, que, segundo ele, contribui para a queda da popularidade do presidente Lula entre as camadas mais pobres da população.
Valter Pomar, da corrente Articulação de Esquerda, também criticou a condução econômica do governo, propondo uma guinada à esquerda e a retomada do socialismo como eixo programático. “É preciso enfrentar o agronegócio, o capital financeiro, as mineradoras e o imperialismo”, declarou. Para Pomar, o partido deve abandonar as alianças que o afastam de seus princípios históricos e voltar a investir em organização popular e mobilização de rua.
Romênio Pereira, atual secretário de Relações Internacionais do PT, adotou um tom mais estratégico, demonstrando preocupação com a desarticulação do partido em cidades pequenas e médias. Sem fazer ataques diretos ao governo, ele sugeriu que parte do afastamento da base pode estar ligada às escolhas políticas e institucionais feitas pelo partido ao longo dos últimos anos.
Edinho Silva defende o governo e aposta na unidade
Isolado nas críticas, Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara e ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social, foi o único a defender abertamente a política do governo Lula. Ligado à corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), Edinho afirmou que a aliança ampla construída em 2022 foi fundamental para derrotar o bolsonarismo e que o desafio agora é manter o PT como protagonista sem abrir mão da coalizão.
“Essa será a última eleição em que o Lula estará nas urnas. Precisamos preparar o partido para o futuro com unidade e força popular”, disse. Ele defendeu ainda o fortalecimento da comunicação direta com a sociedade, o uso estratégico das redes sociais e maior protagonismo para as mulheres e juventudes na direção partidária.
Conflitos sobre alianças e identidade partidária
As divergências mais profundas do debate se revelaram no campo das alianças e da identidade política do PT. Enquanto Edinho sustentou a necessidade de manter a governabilidade com uma frente ampla, Valter Pomar defendeu que o partido rompa com acordos que, segundo ele, limitam a capacidade transformadora do governo e deixam o PT “a reboque” de interesses do mercado.
Rui Falcão reforçou essa crítica, alertando que, sem um reposicionamento claro, o partido pode perder sua identidade histórica. Ele afirmou que o PT precisa resgatar sua base social, fortalecer os diretórios locais e retomar a formação política dos militantes.
Romênio Pereira também fez uma defesa da reorganização interna do PT, com atenção especial às regiões fora do eixo Rio-São Paulo-Brasília, onde o partido teria perdido capilaridade. Ele defendeu maior equilíbrio na distribuição de recursos internos e foco na formação de novas lideranças.
Próximos passos
Com o primeiro turno do PED marcado para 6 de julho e o segundo, se necessário, para 20 de julho, o PT se encaminha para um processo eleitoral interno decisivo. O futuro presidente da sigla terá papel central na condução do partido rumo às eleições municipais de 2026, além de ser o responsável por estruturar o PT para o período pós-Lula — um dos temas mais sensíveis e estratégicos discutidos no debate.