Por Jornalistas Livres
Compartilhado por
Central de Jornalismo
05 de novembro de 2022
Por Ricardo Melo
Bem que Bolsonaro tentou. Usou dinheiro público a rodo como nunca antes aconteceu no país. Pisoteou a Constituição, código penal, judiciário e o que mais fosse para ganhar as eleições. Acionou a Polícia Rodoviária para impedir brasileiros de votar. Após os resultados, sua gang orquestrou caminhoneiros para bloquear estradas em nome de uma intervenção militar.
Nada adiantou. Bolsonaro é mais do que um “pato manco” (lame duck), como os americanos designam mandatários derrotados à espera de entregar o poder. É uma criatura lançada aos rigores da lei sem direito a foro privilegiado e outros benefícios a que bandidos públicos recorrem para delinquir, assediar, roubar e até matar.
A verdade dos fatos falou mais alto. Lula teve uma votação histórica contra uma máquina mortífera. Lula, sempre ele. Nunca um político foi tão perseguido e humilhado de todas as formas. Teve a casa invadida, colchões e gavetas revirados por agentes da polícia federal atrás de dólares que nunca existiram. Tudo diante da mulher e dos filhos. Ficou 580 dias encarcerado sem culpa (quem vai pagar por isso?) para impedi-lo de concorrer às eleições de 2018 em que era favorito disparado.
Em 30 de outubro o cenário mudou para o bem do Brasil. Mas as chagas não desapareceram. Bolsonaro sabe muito bem que caso o Judiciário tenha o mínimo de dignidade seu destino é o xadrez, a cadeia. Ele é acusado de uma penca de crimes dos quais se safou pelo foro privilegiado. Mas a mamata acabou para ele e sua quadrilha familiar.
Não há nenhum revanchismo nisso, apenas respeito a regras elementares da democracia e da justiça. Bolsonaro sabe disso e faz suas apostas derradeiras. Imagina um review da Lei de Anistia, que inocentou a barbárie militar durante a ditadura e até hoje envergonha o Brasil. Tenta um “indulto” seletivo.
Cadeia nele!
O genocida que aterrorizou o país durante 4 anos quer sair de fininho. Finge ser civilizado ao convidar Geraldo Alckmin para uma “conversa amistosa”. Aparece em live sozinho, vestido com camiseta à moda Zelensky, condenando da boca para fora o bloqueio de estradas com três dias de atraso, quando até as pedras sabem que o movimento foi articulado pelo seu gabinete do ódio.
A “base de apoio” de Bolsonaro não passa de uma multidão de fanáticos, muitos deles com óbvio déficit cognitivo, armados até os dentes –triste saber que há tantos no Brasil, mas são as voltas da história. Os políticos já debandaram e tentam cavar um espaço no governo Lula. O empresariado desembarcou. E o povo mostrou quem prefere nas eleições.
Cabe a Lula se livrar de todo o lixo acumulado nos últimos 4 anos. Sem dó nem piedade políticas ou administrativas. Mandar de volta para a caserna as centenas de militares que passaram a ocupar cargos de confiança. Reconstruir os organismos de fiscalização do meio ambiente, dos crimes contra pobres, mulheres, negros e minorias. Decantar os políticos que estão sempre a favor do poder, de qualquer poder.
Não é tarefa fácil. Acordos, em política, são inevitáveis. Os prazos variam conforme a relação de forças. Muitas vezes é preciso agir com um pregador no nariz em nome de um bem maior. Mas tudo tem limites.