Diário da Quarentena – Com tanta morte no Brasil, haverá clima para eleição municipal?

Por Caco Schmitt
Jornalista, roteirista e diretor. Trabalhou na TV Cultura/SP como diretor e chefe da pauta do jornalismo; diretor na Agência Carta Maior/SP e na Produtora Argumento/SP. Editor de texto no Fantástico, TV Globo/SP. Repórter em vários jornais de Porto Alegre, São Paulo e Brasília.

Nas últimas 24 horas, o número de mortes por conta da covid-19 no Brasil passou de mil (1.179 pessoas perderam a vida). As previsões vão se confirmando e caminhamos para números mais assustadores que os da Itália, França, Espanha e Reino Unido. Há 62 dias em quarentena, andei pensando em muitas coisas, inclusive nas eleições municipais de 4 de outubro, em primeiro turno, quando 146 milhões de brasileiros escolherão vereadores, prefeitos e vice-prefeitos dos 5.568 municípios. Pensei em escrever sobre, mas a nossa triste realidade não me animava. Só que há pouco ouvi o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, falar sobre a possibilidade de adiamento das eleições, “sem prorrogação dos mandatos”. Não entendi direito como seria feito, quem ficaria no lugar dos prefeitos? O calendário eleitoral está apertando e uma decisão deverá ser tomada nos próximos dias. O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, diz que o limite para decisão deve ser junho, mês previsto para o teste final das urnas. Mas, como a votação está prevista na Constituição Federal, qualquer alteração só via Congresso Nacional. Vem aí mais uma batalha em Brasília!
Eu não consigo imaginar agora uma campanha eleitoral com os ódios à flor da pele e com esses loucos-fascistas-bolsonarianos soltos nas ruas, uivando e contaminando. O período eleitoral, por si só, já é agitado, que dizer agora com o nível de belicismo entre governo, apoiadores e contrários. Ou seja: além da cloroquina, distanciamento social, lockdown, quarentena, fake news, entrará no cenário o adia ou não adia as eleições. Cheguei até pensar na hipótese de ousarmos numa eleição via internet, afinal quase tudo está sendo feito hoje pelas redes sociais: compras, lives, aulas, reuniões de família etc. E fui buscar exemplos. Vi que a pequena Estônia quer ser o primeiro país do mundo a votar pela Internet, mas não serve como exemplo pra nós. Não por ter uma população pequena, como Porto Alegre (1,32 milhão), mas porque eles, em matéria de tecnologia da comunicação, são um dos países mais avançados do mundo, berço dos unicórnios Skype, Bolt e TransferWise. Nas últimas eleições de março de 2019, votaram 958.571, sendo 247.232 pela internet. Ou seja, 26% do total. Se eles com todo esse desenvolvimento, chegaram a um quarto do eleitorado votando pela internet, que dizer de nós que estamos muito distantes dessa realidade. Nosso avanço se resume à urna eletrônica. Então, se não houver adiamento, nos encontraremos nas seções eleitorais. No meio do caos que esse desgoverno nos jogou teremos eleições e campanha nas ruas. Mas será bom: o primeiro passo pra gente começar a se livrar desses canalhas!
O adiamento do Enem é só um trailer. A discussão sobre o adiamento das próximas eleições municipais será muito pior e em meio a tantas mortes, tanta desorganização por conta do desgoverno, por conta de um ministério da Saúde militarizado e repleto de gente que não entende nada de saúde e apenas cumpre ordens malucas de um presidente doente. Por isso, ao escutar o presidente da Câmara Rodrigo Maia falar em adiamento das eleições, pensei: o que mais virá pra nos testar?

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