Diário da quarentena – Frigoríficos reabrem, quem vai para o abate é o trabalhador!

Por Caco Schmitt
Jornalista, roteirista e diretor. Trabalhou na TV Cultura/SP como diretor e chefe da pauta do jornalismo; diretor na Agência Carta Maior/SP e na Produtora Argumento/SP. Editor de texto no Fantástico, TV Globo/SP. Repórter em vários jornais de Porto Alegre, São Paulo e Brasília.

Trabalhador não é gado! Trabalhador não é descartável.

Os sindicatos de trabalhadores e Ministério Público do Trabalho em todo país têm que agir com força na defesa da vida, das condições sanitárias de trabalho. Aqui no Rio Grande do Sul é um escândalo o que está acontecendo no setor de frigoríficos. A volta ao trabalho, forçada e apressada pelos empresários com apoio da mídia submissa, terá um preço muito alto para os trabalhadores das plantas industriais e suas famílias, vizinhos e amigos. Dentro do “distanciamento controlado” do governo gaúcho, forçaram a volta, mas alguém acredita que as indústrias tomariam as tais “medidas rigorosas para evitar o contágio?” Voltaram, contaminaram trabalhadores, e agora podem ser fechadas, mas já ampliaram a contaminação pelo novo coronavírus!

Frigoríficos do Rio Grande do Sul registraram 124 casos de Covid-19. O boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do Estado diz que 16.349 trabalhadores foram expostos à doença dentro de unidades frigoríficas, com uma morte confirmada. São nove frigoríficos com casos confirmados distribuídos em sete municípios do Estado: Passo Fundo, Marau, Garibaldi, Lajeado, Carlos Barbosa, Encantado e Tapejara.

Duas unidades da JBS, aquela envolvida nos escândalos da Lava Jato e na fraude da Carne Fraca (país tem memória curta), tiveram as atividades suspensas em Passo Fundo e Tapejara. Passo Fundo (com 204 mil habitantes) tem 203 casos da covid-19 e 17 mortes; Porto Alegre (1,5 milhão de habitantes) tem 505 casos e 17 mortes. O Ministério Público do Trabalho investiga os casos de covid-19 na unidade de abate de aves da JBS em Passo Fundo
Outro absurdo, São Leopoldo (a 30 km de Porto Alegre) viu aumentar o número pessoas infectadas e descobriu que são trabalhadores de dois frigoríficos da região da Serra. Foram contaminados trabalhando nas plantas da JBS e do Nicolini, ambos em Garibaldi. Eles trabalham na Serra e suas famílias ficam na região metropolitana, voltam de ônibus. Claro que a JBS jura que adota as medidas recomendadas pelas autoridades. Mais de cem moradores de São Leopoldo que trabalham lá estão sendo chamados para fazer teste. Além de contaminar os habitantes da sede, os frigoríficos espalham a epidemia para outras cidades. São Leopoldo tinha 72 casos confirmados da Covid-19, 26 deles vieram de fora, mais que um terço do total.
Em Lajeado (84 mil habitantes), o terceiro maior número de casos da covid-19 no RS: 147 casos e sete mortes. A terceira em mortes, atrás de Porto Alegre e Passo Fundo. Haverá relação com o fato de dois frigoríficos, Minuano e JBR, estarem contaminando? O MP quer a paralisação das indústrias de abate. Um morador da cidade vizinha Venâncio Aires, funcionário da Minuano, morreu de covid-19, segundo a prefeitura local. A Minuano o que fez? Lamentou a morte! Na semana passada a prefeitura de Venâncio Aires disse que mais 70% dos casos da cidade “têm relação com a Minuano”. Fica o alerta: os frigoríficos gaúchos voltaram ao trabalho e espalham a pandemia para cidades vizinhas. Hoje, o governador gaúcho alertou que as regiões de Passo Fundo e de Lajeado poderão mudar de bandeira vermelha para bandeira laranja ou até preta (lockdown) dentro do plano de distanciamento controlado que classifica as regiões do estado por bandeirinhas coloridas. O governo gaúcho reconheceu hoje o agravamento do quadro epidemiológico nas duas regiões em que os frigoríficos contaminam.
Há pouco (16h30min) o governo atualizou os dados de hoje: são 1.815 casos de contaminação e 81 mortes. O Correio do Povo já noticia 1.945 casos confirmados e 82 mortes. Oficialmente, foram cinco mortes de ontem para hoje: uma em Porto Alegre, uma em Passo fundo e uma em Lajeado (outras duas foram em Erechim e Garibaldi). Se os sindicatos dos trabalhadores da indústria da alimentação ficarem quietos, se os sindicatos dos trabalhadores da indústria automobilística, do comércio, dos transportes e demais setores da economia, não entrarem pra valer na fiscalização dessa volta ao trabalho, mais mortes acontecerão. Fábricas, comércio e serviços retomam as atividades, espero que não façam como os frigoríficos que reabriram e os trabalhadores é que estão sendo abatido.

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