Por Caco Schmitt
Jornalista, roteirista e diretor. Trabalhou na TV Cultura/SP como diretor e chefe da pauta do jornalismo; diretor na Agência Carta Maior/SP e na Produtora Argumento/SP. Editor de texto no Fantástico, TV Globo/SP. Repórter em vários jornais de Porto Alegre, São Paulo e Brasília.
O sociopata maior e o sociopata-bufão, enfim, estão juntos no macabro balanço de mortes da pandemia mundial da covid-19: Estados Unidos é o país com maior número de mortos do mundo e o Brasil é o segundo lugar. Ambos fizeram por merecer, infelizmente para nós, os mortais. Desde o começo ambos menosprezaram a pandemia, de “gripezinha” pra fora. Os dois demoraram a coordenar qualquer ação preventiva, qualquer planejamento de combate ao novo coronavírus, atrasaram tudo, estimularam as pessoas a não seguir orientações da Organização Mundial da Saúde. O pior, pra nós brasileiros, é que Jair Bolsonaro não só demorou como até hoje nada fez, ao contrário de Donald Trump que, pressionado pelo grandioso número de mortes e pelas proximidades das eleições presidenciais de novembro próximo, resolveu agir em meio ao caos.
O resultado de hoje não é surpresa. Os Estados Unidos registram 2.085.566 casos confirmados e 116.257 mortes e o Brasil 829.902 casos e 41.901 mortes. Ultrapassamos o Reino Unido, que tem 292.950 casos e 41.566 mortes, e agora é o terceiro colocado. Em Londres, o Primeiro-ministro Boris Johnson começou igual à dupla sociopata TrumpBol, mas, depois de ser infectado pelo novo coronavírus, mudou a postura e até elogiou os enfermeiros estrangeiros que cuidaram dele. Reduziu um pouco seu xenofobismo e o descaso para com a pandemia. Passou a ser mais zeloso e ajudou a reduzir o número de mortes.
Hoje, depois de 85 dias de quarentena, tomando todos os cuidados, eu tenho as mesmas dúvidas de várias amigas e amigos em situação semelhante: valeu a pena ficar recluso? Em quase todo o país o distanciamento social foi derrubado em meio a uma curva ascendente do número de casos e de mortes, algo inacreditável! Esse governo mal-intencionado e genocida tanto forçou, tanto sonegou auxílio que conseguiu pressionar os pequenos comerciantes, os pequenos e médios empresários, os trabalhadores formais e informais que hoje se expõem ao contágio em ônibus apertados, frigoríficos insalubres, ruas inseguras. Sem escrúpulos, nada faz pra impedir a invasão de áreas indígenas e o massacre de crianças e idosos nas aldeias. Quando há morte ou contágio os governos sempre alegam que “todas as providências foram tomadas”. Já virou senha da morte essa frase esconderijo: “tomamos todos os cuidados sanitários”. Mentira! Os governos não têm capacidade de fiscalizar o respeito ao distanciamento, se estão usando ou não álcool gel, se a lotação é de 50 e não 70%. É a triste e mortal realidade de um país acostumado a dar jeitinhos de burlar tudo. Por isso, a reabertura “gradual” do comércio, dos serviços é um tiro no escuro. Se alguém, depois de suportar três meses de quarentena, sair de casa e se expor corre o mesmo risco de ser contaminado. Por culpa desses mensageiros da morte.
Hoje, o psicopata maior e o psicopata-bufão devem estar contentes, pois formam a dupla líder do número de casos e de mortes no planeta. Mesmo com as relações estremecidas, esses dois acidentes de percurso da história dos Estados Unidos e do Brasil, na hora errada dos tempos, são responsáveis pela tragédia de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas. Daqui dezenas ou centenas de anos, os que forem estudar o começo do século 21 e a pandemia da covid-19 jamais entenderão como isso foi acontecer. Como dois países tão grandiosos permitiram o acesso ao poder de vermes tão nocivos como essa dupla TrumpBol. E como eles conseguiram agir sem serem derrubados pela sociedade, pelo Parlamento ou pelo Judiciário. Eu morrerei sem saber…