Disputa entre Bacellar e Wladimir em Campos desafia hegemonias e redesenha alianças para 2026 no RJ

A cidade de Campos dos Goytacazes, maior município do interior fluminense, está novamente no centro das atenções políticas do estado do Rio de Janeiro. Com um histórico marcado pelo protagonismo da família Garotinho e, mais recentemente, pela ascensão de novas lideranças, o município se tornou palco de uma disputa estratégica entre diferentes grupos políticos que já se movimentam de olho nas eleições estaduais de 2026.

De um lado está Rodrigo Bacellar (União Brasil), presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que vem consolidando sua influência no interior e é cotado como um dos principais nomes da direita para disputar o governo estadual. Bacellar, nascido em Campos, tornou-se figura central na base do governador Cláudio Castro (PL), mas enfrenta resistência dentro do próprio campo bolsonarista. A preferência de Jair Bolsonaro e de setores do PL fluminense ainda recai sobre nomes como o do ex-prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), atual secretário estadual de Transportes.

Do outro lado, está o prefeito reeleito de Campos, Wladimir Garotinho (PP), que obteve uma vitória expressiva em 2024 com mais de 69% dos votos. Wladimir tem buscado se distanciar da polarização da extrema-direita e se aproximar de nomes mais moderados, como o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), com quem articula alianças para fortalecer uma frente alternativa para 2026. Essa aproximação também é vista como uma tentativa de Paes de ampliar sua influência política no interior fluminense, com foco na construção de uma candidatura viável ao governo do estado ou de uma chapa majoritária forte.

A disputa entre Wladimir e Bacellar extrapola os bastidores partidários e se reflete diretamente na vida da população de Campos. O prefeito acusa o governo estadual de represar repasses para a área da saúde, alegando motivação política, e chegou a mover ações judiciais contra o estado. Nos bastidores, interlocutores afirmam que o clima entre os dois grupos é de confronto permanente e que, mesmo pertencendo à mesma federação partidária, Wladimir não apoiará Bacellar em uma eventual candidatura ao Palácio Guanabara.

Ao mesmo tempo, Washington Reis tem se movimentado com discreta habilidade. Apadrinhado por setores do PL e com bom trânsito entre MDBistas históricos, ele já aparece em eventos públicos ao lado de Anthony e Rosinha Garotinho, pais de Wladimir, ensaiando uma aproximação mais concreta com o clã campista. Há quem diga que Wladimir possa migrar para o MDB, abrindo caminho para uma candidatura própria ao governo estadual ou compondo uma chapa com Reis, numa tentativa de construir uma terceira via que rompa com a lógica de confronto entre Bacellar e os bolsonaristas puros.

Apesar de representar cerca de 3% do eleitorado fluminense, Campos é visto como termômetro político para o interior do estado. A cidade tem um simbolismo estratégico: já elegeu um governador (Anthony Garotinho), uma governadora (Rosinha), além de deputados federais e estaduais influentes. Em 2026, deve mais uma vez exercer papel decisivo na formação das alianças e no resultado final da corrida pelo governo do Rio.

A disputa entre Bacellar e Wladimir em Campos, com os olhares atentos de Eduardo Paes e Washington Reis, indica que a eleição de 2026 promete ser uma das mais disputadas da história recente do estado. O xadrez está montado e as peças começam a se mover com rapidez. O que se desenha é um embate não apenas entre projetos políticos, mas também entre visões diferentes de futuro para o Rio de Janeiro — e Campos, mais uma vez, será o campo de batalha onde boa parte desse destino será decidido.

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