Em uma entrevista coletiva realizada na manhã desta terça-feira no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um amplo balanço da situação política e econômica do país, abordando temas centrais da agenda do governo. A conversa com a imprensa durou cerca de uma hora e meia e ocorreu em um momento delicado de articulação política, em meio a críticas à condução da economia e a tensões com o Congresso.
Reforço à comunicação do governo
A entrevista faz parte da nova estratégia de comunicação do Palácio do Planalto, coordenada por Sidônio Palmeira, titular da Secretaria de Comunicação (Secom). Lula falou diretamente com os jornalistas, sem roteiro fechado, e buscou transmitir um discurso de autoridade e transparência, em meio às pressões políticas e ao desgaste da popularidade do governo. Ao final da coletiva, o presidente ainda brincou com repórteres e enfatizou que continuará promovendo esses encontros com mais frequência
Críticas ao Congresso e defesa do diálogo
Um dos temas mais comentados foi o impasse em torno do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), anunciado por Fernando Haddad como forma de compensar a desoneração da folha de pagamento. Lula admitiu o erro na condução do anúncio e disse que o governo vai buscar uma solução “com diálogo e escuta”. “Não posso permitir que um presidente da República governe sem conversar com o Congresso”, afirmou. Ele negou que haja uma crise política, mas reconheceu dificuldades de articulação.
Apoio a Haddad e à política econômica
Lula foi categórico ao defender o ministro da Fazenda. “O Haddad não está isolado. Ele é ministro do meu governo e tem minha confiança”, disse. O presidente procurou minimizar rumores de substituição no comando da economia e reafirmou o compromisso com responsabilidade fiscal, mas deixou claro que isso não pode significar paralisia dos investimentos sociais. “Não vou permitir que façam com o Haddad o que fizeram com outros ministros da Fazenda no passado”, afirmou.
Caminhoneiros e concessões de estradas
Em um aceno político importante a um setor que se alinhou majoritariamente à extrema direita nos últimos anos, Lula anunciou que o governo vai incluir cláusulas específicas em concessões de rodovias para garantir infraestrutura de apoio aos caminhoneiros — como áreas de descanso, banheiros e segurança. “Vamos cuidar de quem transporta a riqueza deste país pelas estradas”, declarou.
Viagem à França e articulação internacional
Ainda hoje, Lula embarca para a França, onde participará de uma série de compromissos com lideranças internacionais. Ele destacou que manterá o foco na reconstrução da imagem do Brasil no exterior, principalmente nas pautas ambientais e no combate à desigualdade global. A agenda no exterior, segundo o presidente, não o afastará das urgências internas. “O Brasil precisa ser protagonista no mundo sem esquecer do povo aqui dentro”, disse.
Outras pautas abordadas
Lula também comentou sobre os ataques ao Supremo Tribunal Federal, defendeu o papel da democracia e criticou a atuação de setores da oposição que, segundo ele, atuam para “sabotar” o país. Além disso, mencionou ações para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), compromissos com a habitação popular e defendeu maior rigor no combate ao garimpo ilegal na Amazônia.
A entrevista marcou um reposicionamento do presidente no cenário político, com o objetivo de reorganizar a base, reaproximar-se da população e reagir às narrativas que tentam associar seu governo à paralisia. “Vamos fazer o que for preciso para retomar a confiança do povo e seguir governando com responsabilidade, mas principalmente com compromisso social”, concluiu.