Kim e Trump assinam acordo para desnuclearização da península Coreana

Documento repete o compromisso de dar fim às armas nucleares feito pelo norte-coreano no final de abril, em uma reunião com a Coreia do Sul, e não estabelece, por ora, passos concretos rumo à desnuclearização Em condições ainda vagas e com compromissos que ficaram de fora do papel, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, assinaram nesta terça-feira (12) em Singapura um acordo que prevê a desnuclearização da península Coreana, no qual os dois países se comprometem à “paz e prosperidade” na região. O documento repete o compromisso de dar fim às armas nucleares feito pelo norte-coreano no final de abril, em uma reunião com a Coreia do Sul, e não estabelece, por ora, passos concretos rumo à desnuclearização. Um dos principais itens do combinado entre Kim e Trump, a destruição de um local de testes de mísseis nucleares, foi obtido após a assinatura final, segundo o americano -e ficou de fora do documento divulgado pelos dois países. As sanções econômicas contra a Coreia do Norte permanecem inalteradas, até que sejam tomados passos concretos rumo à desnuclearização, de acordo com o americano. E o esperado término oficial da Guerra da Coreia, que divide a península coreana há quase 70 anos, não foi anunciado desta vez. Trump afirmou que o momento era “histórico” e que inaugura “um novo capítulo na história nas nações”, mas reconheceu que é o início de um processo e disse que “não há como garantir tudo”. “Eu apenas sinto, muito fortemente, que eles querem fazer um acordo”, declarou o presidente, durante uma longa entrevista à imprensa em Singapura. “É isso que eu faço. Minha vida toda foi de negociação. Isso é o meu negócio.” Em troca do compromisso de desnuclearização, os EUA se comprometeram a interromper os exercícios militares aéreos conjuntos com a Coreia do Sul, na fronteira dos países, que desagradaram o norte-coreano durante as negociações para a cúpula desta terça e quase ruíram o encontro. “Em primeiro lugar, é tremendamente caro. E segundo, é uma situação muito provocadora”, afirmou Trump. “Diante das circunstâncias de que estamos negociando um acordo bastante abrangente, [abandonar os exercícios militares] é algo que eles [Coreia do Norte] apreciaram bastante.” Ao ser perguntado se havia interpelado o ditador, que sufoca a oposição ao regime e detém centenas de presos políticos em campos forçados, Trump disse que falou, sim, do assunto -mas de forma “muito breve” em comparação ao tema das armas nucleares, principal foco do encontro. Em um clima ineditamente amistoso com a imprensa no local, Trump não quis responder, porém, a um jornalista que o questionou, de forma incisiva, se o encontro dava legitimidade a um regime ditatorial que oprime e retira direitos da população. “Eu acabei de responder”, desconversou o americano. Ainda não se sabe quanto tempo levará a desnuclearização prometida por Kim. O americano reconheceu que é preciso um grande esforço para desmobilizar um arsenal como o norte-coreano, e que há impeditivos “científicos e mecânicos” para que isso seja feita de forma rápida. Os EUA farão verificações do compromisso da desnuclearização in loco, com uma equipe de observadores americanos e internacionais. Uma próxima reunião entre as delegações dos dois países será agendada na semana que vem. Na ocasião, serão estabelecidos os passos concretos para o compromisso atingido nesta terça. Trump não descartou a possibilidade de viajar a Pyongyang em breve -tampouco a de convidar Kim para uma visita à Casa Branca. *Com informações da Folhapress.

Livro denuncia duras condições de vida na Coreia do Norte

De seu autor, não se sabe muito, nem sequer o nome real Essa é a história de um manuscrito de 750 páginas que passou de mão em mão, cruzou ilegalmente uma fronteira, foi primeiro ignorado e de repente espalhou-se por mais de 20 países. De seu autor, não se sabe muito, nem sequer o nome real. É essa a história de “A Acusação – Histórias Proibidas Vindas da Coreia do Norte”, assinado pelo pseudônimo Bandi, livro de um autor do país socialista, contrabandeado para a Coreia do Sul. É um conjunto de sete contos -uma seleção de histórias do manuscrito original- que denunciam a vida sob o regime e serão lançados no Brasil na última semana de março. O livro conseguiu sair da Coreia do Norte graças aos esforços do ativista de direitos humanos Doo He-youn, da Coreia do Sul, em uma história cheia de reviravoltas. Um dia, o militante foi informado de que uma mulher tentara fugir do país socialista e fora detida por autoridades chinesas. E guardas queriam um suborno para não devolvê-la ao regime. A mulher era parente de Bandi, que tentara fazer com que ela viajasse com o manuscrito. Já livre, ela procurou He-youn para contar do livro -e deu ao ativista o nome real do autor e seu endereço. O ativista tinha, por acaso, um amigo que planejava visitar a família na mesma cidade onde Bandi vive. E pediu para que ele desse um jeito de trazer a obra, cujas folhas vieram escondidas dentro das “Obras Seletas” de Kim Jong-Il, ditador norte-coreano morto em 2014. He-youn tentou publicá-lo em editoras da Coreia do Sul, mas -como era de se esperar, já que não era possível ter certeza de que a autora era real- a maioria recusou, e o livro acabou publicado apenas em um site de direita, sem gerar repercussão. Por via das dúvidas, mesmo os nomes de locais e personagens foram alterados para publicação. A virada veio quando “A Acusação” foi publicada na França, pela Philippe Picquier, em 2016. A tradução francesa foi parar nas mãos da agente literária nova-iorquina Barbara Zitwer, especializada em literatura coreana, que planejava vendê-lo na Feira do Livro de Londres. Mas os acontecimentos anteciparam o processo. “Eu estava com o livro havia alguns meses, mas a Coreia do Norte fez mais um teste nuclear e eu vi que aquele era o momento”, diz ela. “A Grove, nos EUA, e a Serpent’s Tail, no Reino Unido, fizeram ofertas para o livro não ir a leilão. E nas duas semanas seguintes vários outros países compraram. Era como um ‘Doutor Jivago’, um livro contrabandeado e brilhante.” De lá para cá, a obra já saiu em grandes mercados, como Alemanha, Espanha e Itália, além de Grécia, Turquia e outros países. O pseudônimo escolhido significa vaga-lume. BIOGRAFIA Não foi revelado muito sobre Bandi, com medo de que seja identificado. Mas, segundo relatos das pessoas envolvidas na publicação do livro, nasceu em 1950 e escreveu sua obra nos últimos 30 anos, começando nos anos 1990, quando o país era governado por Kim Jong-Il. Os relatos se referem ao autor ora como homem, ora como mulher -então não é possível nem saber exatamente o seu gênero. Bandi é membro do Comitê Central da Liga de Escritores Chosun, associação de escritores autorizada pelo regime -e dedicada a produzir literatura de propaganda. Tinha cinco anos quando começou a Guerra da Coreia e, embora tenha tido seus primeiros textos publicados aos 20 anos, escolheu viver em meio aos trabalhadores antes de entrar para a associação de escritores. A transformação de propagandista em crítico do regime em sua obra -sempre feita em segredo- aconteceu nos anos 1990, quando uma crise de fome e uma série de enchentes assolaram a Coreia do Norte. São desse período os contos agora publicados. “Eles seguem quase todos o mesmo caminho. Alguém que sofreu a vida toda em função das limitações do regime de repente, num momento de desespero, se dá conta de quanto aquilo tudo é apavorante”, diz Rogério Galindo, tradutor do livro para o português. “O que muda são as reações. Alguns naufragam de vez, outros fogem, outros decidem reagir. Bandi reagiu.” São contos tensionados pelo suspense permanente, em que acontecimentos banais do cotidiano deixam no leitor o medo de que os personagens acabem esmagados pela mão de ferro do regime ou pela consciência da opressão -o que sempre acontece. Em um deles, uma mãe de Pyongyang precisa esconder de todos que seu bebê abre o berreiro ao ver retratos de Karl Marx e do “Grande Líder”, por confundi-los com um bicho-papão. No fim, as autoridades concluem que as crianças herdam não só as características físicas dos pais, mas também seus pensamentos -e o choro da criança só pode indicar algo subversivo. Em outro, uma multidão está presa e com fome numa estação ferroviária, porque os trilhos e as estradas foram fechados para a passagem de Kim Jong-Il. Uma senhora tenta ir a pé a uma cidade próxima e acaba sendo levada de carona pelo ditador -que depois a usa como peça de propaganda de seu “amor pelo povo”. Perturbada, ela conclui viver em uma fábula de seu país: um jardim murado, governado por um demônio, em que o choro é transformado em riso para quem está fora escutar. Uma imagem em um dos contos parece sintetizar sua posição: um pássaro que grita como se estivesse engasgado com um coágulo de sangue.A ACUSAÇÃO – HISTÓRIAS PROIBIDAS DA COREIA DO NORTE AUTOR Bandi TRADUÇÃO Rogério Galindo EDITORA Biblioteca Azul QUANTO valor ainda não divulgado Com informações da Folhapress.

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