Tensão e diplomacia em Nova York: foto entre Trump e Lula se torna símbolo de embate global

Entre os muitos instantes captados na 80ª Assembleia Geral da ONU, um registro ganhou destaque: o breve encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. O aperto de mãos e os acenos protocolares, aparentemente banais, se transformaram em uma das imagens mais comentadas do evento. Para alguns, trata-se apenas de uma fotografia. Para outros, um momento carregado de simbolismo político.

O gesto viralizou nas redes e foi amplamente repercutido pela imprensa internacional, justamente por reunir dois líderes que representam visões opostas no cenário global. Para analistas, a cena traduz um instante raro de diplomacia em meio a um período de forte tensão entre os dois países.

Pouco depois do encontro, Lula e Trump discursaram de forma contrastante na tribuna das Nações Unidas. O presidente brasileiro manteve um tom de estadista, reforçando a defesa da soberania nacional, criticando sanções unilaterais e condenando tentativas de interferência externa, sem citar diretamente Washington. Já Trump fez duras críticas ao multilateralismo e à própria ONU, atacando políticas migratórias e ambientais que, segundo ele, estariam levando nações “ao inferno”.

Apesar das divergências, chamou atenção o anúncio de que os dois líderes devem se reunir na próxima semana. Trump chegou a afirmar que, em apenas 39 segundos de contato com Lula, percebeu uma “excelente química”, declaração que surpreendeu diplomatas em Nova York e gerou especulações sobre uma possível reaproximação.

O pano de fundo é uma crise diplomática que se arrasta desde julho. À época, Trump impôs tarifas de 50% sobre importações brasileiras e sancionou personalidades ligadas ao Judiciário em reação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado no Brasil por crimes relacionados ao processo eleitoral. O governo Lula reagiu com indignação, classificando as medidas como “inaceitáveis” e reforçando que a soberania brasileira não seria objeto de negociação.

Nesse contexto, a fotografia do aperto de mãos pode ser interpretada como um gesto de abertura, mas também como um campo minado político. De um lado, sugere disposição para manter canais de diálogo; de outro, escancara as profundas divergências que permanecem.

Especialistas apontam que o impacto da cena pode ir além do diplomático. A simples perspectiva de um encontro oficial entre os dois presidentes já foi suficiente para gerar reflexos econômicos, com leve valorização do real frente ao dólar. Mas, sem medidas concretas que aliviem tarifas e sanções, há risco de que a aproximação não passe de um gesto simbólico.

O episódio também tem peso eleitoral. Lula, que se prepara para disputar nova eleição em 2026, busca se afirmar no tabuleiro internacional como voz ativa em defesa da democracia e da autonomia nacional. Trump, por sua vez, reafirma sua agenda nacionalista diante de uma plateia global cética.

Em meio a crises simultâneas — da guerra em Gaza às disputas climáticas e comerciais —, a cena de Nova York já entrou para a galeria de imagens emblemáticas da ONU. Mais do que um retrato, é um reflexo do confronto entre dois projetos distintos de mundo: o nacionalismo duro de Trump e o multilateralismo crítico de Lula.