Com ajuda apenas de parceiros de doações, ele ajuda a matar a fome de pessoas em situação de rua em vários pontos do DF. Quase todos os dias
Por Jornal do Guará
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Central de Jornalismo
14 de novembro de 2022
É difícil imaginar que apenas uma pessoa é capaz de preparar 400 marmitas e depois distribuí-las a pessoas carentes todos os dias. Mas ele existe. O que parece difícil e até inimaginável para muitos, pelo trabalho e custo, para Adenilson Cruz, 45 anos, é uma prazerosa rotina. Na parte dos fundos da casa onde mora, na QE 1 do Guará I, que divide com a mulher Michele e o filho Benjamim, de apenas um ano, ele criou o projeto social que pode ser mais o significativo do Distrito Federal por envolver praticamente uma única pessoa em todas as pontas.
Esse sentimento de doação na vida de Adenilson, mais conhecido como “Tio Marmita”, foi forjado nas dificuldades que enfrentou desde criança, quando a mãe, diante de problemas familiares em casa, resolveu interná-lo num convento de freiras na cidade paulista de Caconde. Lá, ele conviveu durante 12 anos com um projeto das freiras que ajudava pessoas em situação de vulnerabilidade social. Mesmo depois que veio para Brasília em busca de oportunidades profissionais, a assistência aos mais necessitados continuou martelando na mente do então consultor, até que o acaso o fez voltar a fazer o que mais gosta. “Há sete anos, perdi um filho com apenas um dia de vida do primeiro relacionamento. Fiquei revoltado com a perda e resolvi largar o que estava fazendo, sair de casa e seguir um outro caminho. Comecei a vender marmitas nas ruas de Brasília para sobreviver”, conta. Produzia cerca de 40 por dia, mas vendia apenas 20, porque a outra metade ele doava a quem não tinha dinheiro para comprá-las.
Com o tempo, a produção e as vendas cresceram e as doações aumentaram na mesma proporção. Ele chegava a vender 100 quentinhas na Rodoviária do Plano e distribuir outras 100, até que um resolveu que iria produzir apenas para doar. Foi em busca de parceiros e da ajuda de amigos. Conseguiu, por causa do apelo do projeto. Hoje, sete anos depois, além das 400 marmitas produzidas e distribuídas de segunda a sexta, ele chega a distribuir até mais 1 mil marmitas em datas especiais, como Dia dos Pais, das Mães, Natal, Ano Novo… Faça chuva ou frio. Aliás, são nesses dias de intempéries que a motivação de Tio Marmita aumenta. “Existe muita gente que também distribui alimentação a moradores de rua, mas somente quando o tempo está bom. Se chover ou fizer muito frio, não vão. Pra mim, não faz diferença, porque são nessas horas que eles mais precisam”, afirma.
Preparação e distribuição
A rotina da preparação da comida começa no dia anterior, quando Adenilson começa a correr atrás das doações. Alguns parceiros já são fixos, o que facilita em parte a busca pela ajuda. Para conseguir cerca de R$ 50 mil mensais, custo estimado do projeto, com aquisição de gêneros alimentícios, embalagens, produtos de limpeza, gás de cozinha, ele conta com doações da rede de supermercado Caíque, Nara Veículos, Renato Imóveis, Churrascaria Nativa, de um grupo de mulheres que desenvolve um projeto de assistência a portadores de câncer no Hospital de Base e de um grupo de senhoras aposentadas.
As doações são recolhidas por ele numa camionete com as inscrições do projeto Adenilson Cruz, que ele criou para facilitar o processo de comprovação das doações e ampliar a divulgação. Assim que chegam à cozinha industrial improvisada no fundo de casa, ele começa a preparação, que geralmente termina entre 21h a 22h. Aí, começa a distribuição, que, em dias de chuva, pode terminar até de manhã, em vários pontos do DF, como Rodoviária do Plano Piloto, W/3, Setor Comercial Sul, Taguatinga, aos índios que moram no Setor Noroeste, e no Guará nas redondezas do supermercado Pão de Açúcar, do Hospital do Guará e na linha férrea da QE 40. Somente de combustível são cerca de R$ 150 por dia.
Afinal, o que faz e de que sobrevive a pessoa Adenilson? É a pergunta que o leitor deve estar fazendo. “Da fé”, responde ele prontamente. “Vivo do que sobra, até porque não preciso de muito. Não bebo, não tenho vida social, não viajo e não tenho outros objetivos próprios que não seja ajudar ao próximo”, completa. Nem férias tirou depois que começou o projeto. A mulher, Michele, apenas concorda, porque entrou na vida dele já com tudo em andamento.
Mas, por que um projeto tão bonito não atrai outros voluntários para ajudar na preparação e distribuição? Segundo Tio Marmita, é difícil encontrar quem tenha a mesma motivação e a mesma disponibilidade dele. “Às vezes aparece alguém para dar uma contribuição, mas é raro. Acho que ninguém tem esse propósito e esse meu pique”, diz, rindo.
Além das marmitas, Adenilson distribui também cestas básicas que recebe de doação. “Fiz um propósito com Deus de não tocar nessas cestas e distribuí-las intactas às famílias. Não tiro nada delas”, garante. Ele também recebe e distribui roupas, agasalhos, cobertores, brinquedo… O trabalho do “Tio Marmita” também ajuda a resgatar e encaminhar as pessoas com algum tipo de dependência para casas de recuperação no Entorno de Goiás, Planaltina, Sobradinho e Brazlândia.
Como ajudar
Quem quiser contribuir com a doação para as marmitas, cestas básicas ou outros itens de necessidade, pode doar através de transferência bancária ou
Favor entregar a doação na sede do Instituto, no Guará I, ou ligar (61) 98590-1592 para combinarmos a coleta.
𝑷𝒂𝒓𝒂 𝒅𝒐𝒂𝒓 𝒗𝒊𝒂 𝑷𝑰𝑿:
a chave PIX é o CPF 16510373882