Rio gigante surge em área desmatada para plantação de soja na Argentina

Um rio surgiu na província de San Luis, na região central da Argentina, e essa não é uma boa notícia para o ambiente. Na realidade, trata-se de uma consequência do desmatamento e da expansão do plantio de soja. O aumento da quantidade de chuvas, relacionado às mudanças climáticas, também é apontado como causa do surgimento do rio.

Chamado de Rio Novo (Río Nuevo, em espanhol), o curso de água apareceu repentinamente em 2015, com a abertura de uma imensa ravina, em um processo erosivo que surpreendeu fazendeiros, pesquisadores e moradores da região. Desde então, o rio já alcançou 25 km de extensão, segundo reportagem do jornal britânico “The Guardian”.

Na altura em que a ravina é mais aberta e profunda, ela alcança 60 metros de largura e 25 metros de profundidade, formando um enorme desfiladeiro. A Universidade Nacional de San Luis produziu um documentário mostrando a evolução do rio e estragos causados por ele.

De acordo com o Guardian, o governo de San Luis tenta salvar a bacia de Cuenca del Morro. Dentre as medidas adotadas está uma lei aprovada em 2016 que obriga os proprietários a preservarem 5% de suas fazendas como florestas ou pastagens e a plantar culturas de inverno que drenam água quando suas terras não estão sendo usadas para soja.

O Rio Novo é o maior de vários novos cursos de água que começaram a aparecer na bacia de Cuenca del Morro. A planície de cerca de 373 mil hectares possui uma leve inclinação e diversos lençóis freáticos. Foram essas águas subterrâneas que fizeram o solo ceder e formaram o afluxo de água que está levando tudo que encontra pela frente. O avanço do rio ameaça passar pela pequena cidade de Villa Mercedes e cortar duas estradas importantes.

Até o início da década de 1990, a região possuía florestas e pastagens, que absorviam bem a água das chuvas que se infiltrava no solo. A maior parte dessa cobertura foi substituída por plantações de milho e soja. Ao contrário da floresta, que são permanentes e cujas raízes absorvem a água subterrânea, a soja cresce apenas alguns meses do ano e possui raízes curtas, explica Esteban Jobbagy, pesquisador de Universidade Nacional de San Luis, ao The Guardian.

Assim, o desmatamento e a agricultura intensiva fez com que a região da bacia de Cuenca del Morro perdesse a capacidade de drenagem de água, o que levou a um aumento do fluxo de água subterrânea, à formação de enxurradas e ao processo erosivo. O aumento das chuvas, possível consequência do aquecimento global, tornaria ainda mais problemática a situação.

“Quando o solo fica encharcado, torna-se muito instável, e o que parece ser sólido se torna líquido. O rio movimenta muito sedimento, apesar do declive relativamente suave”, indica Jobbagy.

No trecho mais amplo, erosão alcança 60 metros de largura e 25 metros de profundidade

Uma reportagem do jornal britânico The Guardian mostra os problemas relacionados ao rio, sendo um deles as consequências da dependência da Argentina à produção de soja, que abarca cerca de 60% das terras agriculturáveis. De acordo com o Greenpeace, cerca de 2,4 milhões de hectares de floresta nativa foram perdidos nos últimos 10 anos no país.

Argentina é o terceiro maior produtor de soja do mundo, depois dos EUA e do Brasil, e responde por 18% da produção global. Em 2016, as exportações combinadas de soja, farelo de soja e óleo de soja representaram 31% do total das exportações do país.

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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