Por um novo Lula-Por Helcio Gadret

Luís Inácio não poderá repetir os mesmos Lulas

Por Helcio Gadret/Ultrajano
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Central de Jornalismo
07 de março de 2021

Para o bom debate político, para aqueles que nele votaram para derrotar o “cometa” Collor de Mello, para os que nele não votaram contra o “príncipe da sociologia”, para os que duas vezes o elegeram Presidente da República, para todos que lamentaram sua má escolha para sucedê-lo, Luiz Inácio não poderá repetir os mesmos Lulas

Uma canetada do ministro Fachin e a decisão por 3 x 2 na segunda turma do STF fizeram Lula voltar para o jogo. Os processos a serem enviados à vara federal de Brasília muito provavelmente decairão por prescritos. O retorno do personagem à cena altera radicalmente os possíveis acordos já acertados, os arranjos ainda em processo e as tratativas apenas esboçadas. O senhor da razão determinará as implicações e as consequências das decisões inusitadas e ele, o tempo, correrá célere até o fim de 2021, para quem, aos 75 anos, segundo o próprio, pleno de energia, ainda pode e quer fazer muito.

Desde logo, seria conveniente alertá-lo para não exagerar. Sempre haverá alguém “inconveniente” para lembrar que “Castelo de Areia”, “Mensalão” e “Petrolão”, não foram narrativas falsas. Foram, sim, estes, os maiores escândalos de corrupção em 500 anos de História do Brasil. R$ 40 bilhões devolvidos aos cofres públicos, fora a criação de nova unidade monetária; um “barusco” = R$ 100 milhões. Pode isso ser esquecido?

Para o bom debate político, para aqueles que nele votaram para derrotar o “cometa” Collor de Mello, para os que nele não votaram contra o “príncipe da sociologia”, para os que duas vezes o elegeram Presidente da República, para todos que lamentaram sua má escolha para sucedê-lo, Luiz Inácio não poderá repetir os mesmos Lulas.

Não poderá de novo encarnar o “Sapo barbudo” que Brizola mandou engolir, muito menos o personagem “Lulinha paz e amor” que arrebatou a esperança do “povo no poder”, empolgou parte da classe média para um destino de Brasil potência e recebeu o aval desconfiado do “mercado” e do empresariado. Menos prosápia, arrogância, e muita serenidade serão exigidos.

Lula terá de renovar-se para renovar a esperança da esquerda e do PT. No discurso arredondado com pose e verbo de estadista, prometeu não guardar mágoa, embora, dizem, melhor que não guardar é não ter mágoa. Difícil para quem se convenceu injustiçado. Porém, para a metamorfose-ambulante mudar muito, não é impossível e será mandatório caso queira viabilizar-se candidato em 2022, por sinal, com fundadas chances de vitória.

Não vejo como indispensável, embora seria positivo, a Lula e ao PT autocrítica “diante das massas”. Entretanto, imprescindível o amadurecer das ideias e princípios de gestão econômica. Mais particularmente, do relevante papel de um Estado modernizado, eficaz, indutor do desenvolvimento, porém compromissado prioritariamente com suas funções clássicas de garantir, especialmente às populações desprotegidas, saúde, educação e segurança.

Ainda é muito cedo para análises mais consistentes do xadrez eleitoral. No entanto, esboçam-se os contornos da pugna de 2022. Ab initio, necessário será esclarecer “qual será a” do centro e a da centro-direita, fator a meu juízo decisivo para aclarar o horizonte. Juntar-se-ão em uma única candidatura Doria, Mandetta, Leite, Moro, Huck, Luiza Trajano, Kalil, Amoedo? Pela centro-esquerda parecia dada a presença de Gomes repetindo o voo solo. Surpreendeu ao assinar o “manifesto em defesa da democracia” ao lado de alguns nomes citados. Por sua personalidade forte e polêmica, difícil seguir adiante aliado àquelas figuras. Entretanto, a ver. Outros possíveis candidatos mais à esquerda (Flávio Dino, Haddad, Jacques Wagner, Wellington Dias, Rui Costa e Boulos) seguramente deixam a fila se nela perfilar-se o ex-presidente.

Magalhães Pinto, velha raposa mineira, presença marcante na História do país, ensinava que “política é igual a nuvem; você olha, está de um jeito, olha de novo, mudou”.

Mirando o céu na atual conjuntura e considerando o processo de deterioração acelerado do governo Bolsonaro, em razão do desastre sanitário e do quadro econômico em franco desmantelamento, não creio miragem visualizar no instável nosso tempo político nimboso o desenho que esboço, ainda anuviado.

Apenas hipóteses; improváveis? Certamente. Impossíveis? Talvez não.

Bolsonaro mantém ainda cerca de 20% a 25% de apoio (em queda) e nesses percentuais incluam-se 15% de fanáticos, os quais irão com ele até o fim dos tempos. Na hipótese, ainda remota, reconheço, de uma candidatura de “união nacional” reunindo o espectro da centro-esquerda à centro-direita, esboço um cenário a meu juízo perfeitamente factível:

Bolsonaro alcança apenas 20% dos votos e fica fora do segundo turno;
Lula renovado, com Haddad de vice, disputa o segundo turno com os dois selecionados da coalizão “União Nacional”.
COM QUALQUER RESULTADO, A DEMOCRACIA SOBREVIVE, SE ROBUSTECE E O BRASIL GANHA.

PS: Em seguida, a partir de 1º de janeiro, ao líder eleito caberão como tarefas prioritárias reconstruir um Brasil despedaçado e desconstruir o bolso-trumpismo (cf. Ortellado em recente artigo) – aleijão político nefasto que assombra o nosso país.

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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