Quem é Pedro Castillo, o novo presidente do Peru que venceu o neoliberalismo de Fujimori

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Charles Nisz
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Central de Jornalismo
7 de junho de 2021



Com um passado político recente turbulento, o Peru teve quatro presidentes em cinco anos – dois deles acabaram presos. Um outro ex-presidente, Alan Garcia, cometeu suicídio em 2019. Quando a corrida eleitoral peruana de 2021 começou, poucos apostavam no sindicalista Pedro Castillo, do Partido Peru Libre, como um dos candidatos presentes no segundo turno.

Mas a forte polarização entre esquerda e direita e uma eleição fragmentada (18 candidatos e nenhum obteve mais de 20% na primeira volta), colocaram Castillo no segundo turno contra Keiko Fujimori, herdeira do ditador Alberto e representante das elites peruanas.

Keiko é uma velha conhecida dos peruanos – o pleito de 2021 é o terceiro disputado pela direitista neoliberal. Foi ao segundo turno as três vezes e perdeu todas por margem ínfima. Em 2020, ela chegou a ser detida sob acusação de ter recebido US$ 1,2 milhão da Odebrecht no Peru.

Defensora do atual regime de royalties das mineradoras – a economia peruana é baseada nesse extrativismo – Keiko é contra a nacionalização dos recursos naturais defendida pelo rival Castillo. Keiko e o escritor Mário Vargas Llosa, gênio literário mas sabujo entreguista, chamavam Castillo de comunista por conta dessa proposta.

O espantalho “vermelho” foi um dos temas da campanha suja feita pela direita peruana contra o sindicalista. A campanha quase deu resultado – se nas primeiras sondagens de segundo turno, Castillo tinha quase 20 pontos percentuais de frente, a apuração do pleito virou um thriller digno de Hollywood.

Pedro Castillo pode ser mais do que uma vitória da esquerda no continente – embalada pelas vitórias de Fernandez na Argentina, Arce na Bolívia, a derrubada do governo direitista paraguaio e a possível volta de Lula ao poder no Brasil. O sindicalista representa um reencontro do Peru com suas origens andinas e indígenas.

Ainda criança, o pequeno Pedro levantava às 5 da manhã para ajudar a mãe a fazer fogo e preparar o almoço no vilarejo de Puña, na província de Chota. Para chegar à escola, caminhava por duas horas em encostas de montanhas. Era tido como louco por mover as mãos enquanto andava – ele dizia que estava escrevendo as tarefas “no ar” e assim saberia a lição quando chegasse ao colégio.

Mania de menino que virou profissão, além de sindicalista, Castillo é professor primário e costuma encerrar seus discursos com uma frase que virou mote de campanha: palabra de maestro (palavra de professor). O símbolo eleitoral do candidato indígena era um lápis gigante.

Castillo é uma dessas contradições só possíveis na América Latina. Defende a nacionalização dos recursos naturais, ao estilo de Chávez e Morales – o ex-presidente boliviano foi o maior entusiasta de sua campanha. Mas tem posições sociais conservadoras: é contra o aborto, critica a “ideologia de gênero” e vê com relutância o reconhecimento de direitos de minorias sexuais.

Também causou polêmica ao dizer que fecharia a Suprema Corte peruana e o Congresso. Voltou atrás ao dizer que só faria isso “com apoio do povo”. Mas conquistou o eleitorado ao dizer que usaria o dinheiro dos recursos naturais para impulsionar melhor saúde, educação e segurança pública.

Os desafios de Castillo são imensos. O país andino é um dos mais afetados no mundo pela pandemia do coronavírus. Com a crise sanitária, a economia perdeu 13% só em 2020. Num momento difícil, o povo vê crescer a arrecadação de royalties mas não percebe isso em melhorias para a população em geral.

Num continente onde a política tradicional está desacreditada, com inúmeros golpes, impeachments e propostas de “novidade”, Castillo mostrou que um candidato popular pode conseguir apoio da esquerda urbana e progressista contra o neoliberalismo de Fujimoris, Pinochets e Bolsonaros.

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