por RED/ DE MOISÉS MENDES*
Compartilhado por Central de Jornalismo
A resposta mais óbvia e mais preguiçosa sobre o porquê das agressões a Alexandre de Moraes é esta: atacam o ministro que mais desafia e afronta o fascismo e veste a toga com uma bravura que nenhum outro colega do sistema de Justiça tem.
É uma resposta correta, mas é incompleta. Alexandre de Moraes é o preferido porque o núcleo do ativismo de extrema direita da elite brasileira está intacto e impune e assim se sente à vontade para atacar quem mais teme.
O núcleo com poder econômico está inteiro, talvez mais do que a base com poder político institucional, seja por liderança em partidos ou representação em cargos públicos executivos e legislativos.
É o núcleo ao qual pertence, num dos seus muitos subgrupos, a família que agrediu Moraes em Roma. É o mesmo núcleo que vem sendo investigado por suas ações desde 2018, ainda na campanha que elegeu Bolsonaro.
O mesmo núcleo com o poder do dinheiro que, a partir de abril de 2019, foi incluído no vasto inquérito que nasce como investigação das fake news e é hoje uma Kombi com milícias digitais, incitadores e patrocinadores de atos antidemocráticos e tudo o que genericamente se chama de gabinete do ódio.
Esse núcleo com poder econômico, que financia e sustenta o extremismo em cidades médias e pequenas, não aparecia nos acampamentos, não invadiu Brasília e não corre o risco de chegar perto da Papuda, porque não há flagrantes e não deixa rastros como os deixados pelos manezinhos amadores.
Alexandre de Moraes interditou, para investigações, uma amostra desse núcleo golpista endinheirado ao determinar, em agosto do ano passado, que oito tios do zap fossem afastados das redes sociais.
Os tios foram acusados de conspirar contra a eleição e defender o golpe. Tiveram celulares apreendidos (quais celulares dos muitos que usam?), retiraram-se do ativismo e acabaram ganhando um habeas.
A decisão de Moraes retirou essa elite extremista do campo de jogo e empurrou manés de nível intermediário para a luta.
Esse e outros subgrupos de bolsonaristas ricos tem um escudo que funciona até em decisões da Justiça. São geradores de renda e emprego e sustentam redes de fornecedores.
Cidades inteiras dependem deles. São empreendedores que protegem seu ativismo extremista e golpista no próprio empreendedorismo.
E aí a Justiça não entra, às vezes nem quando o crime é o de sonegação pesada. Prevalece a imposição do dinheiro dos sonegadores graúdos. Riquezas também financiam a impunidade.
Trabalham para essa mesma base poderosa e bem de grana os que cercaram o ministro Luis Roberto Barroso em novembro do ano passado, depois da eleição, em Porto Belo (SC), e o expulsaram da cidade com a família às 4h da madrugada.
São dessa mesma base empresarial extremista os que, em maio do ano passado, mandaram dizer ao ministro Luiz Fux que ele não seria bem recebido em Bento Gonçalves (RS) para uma palestra no Centro de Indústria e Comércio.
Os empresários que promoviam o encontro anunciaram publicamente que não havia como garantir a segurança do ministro, e o faroeste venceu.
Fux era o presidente do SFT e não iria falar de escravismo na região da Serra gaúcha, mas de Risco Brasil e Segurança Jurídica. Sem segurança assegurada, desistiu da viagem.
São da mesma base fascista de classe média ou com algum poder econômico, e sem medo do sistema de Justiça, os que já agrediram os ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.
A base rica do fascismo, que financia, organiza, dissemina e trabalha pelo golpe de forma permanente, é a incitadora da base de maioria pobre das manezinhas e dos manezinhos presos em Brasília.
Os endinheirados se dedicam agora à manutenção da estrutura bolsonarista, mesmo fora do poder, e continuarão ativos enquanto estiverem impunes.
O ministro Bruno Dantas, presidente do TCU, fez a lista de verbos das ações visíveis dessa gente, ao falar da agressão a Moraes.
“Importunar, assediar, agredir verbal ou fisicamente um servidor público em razão do trabalho que realiza é intolerável”, escreveu Dantas.
E acrescentou o lamento que se repete diante do fracasso dos que tentam enquadrar os agressores:
“Lamentavelmente, a legislação brasileira ainda não pune com o rigor necessário os selvagens que praticam esse tipo de crime”.
Faltou, na lista de verbos do ministro, o mais usado desde o ataque a Moraes em Roma: hostilizar.
Os ativistas de extrema direita hostilizam, importunam, assediam e agridem verbalmente porque outras ações, conjugadas por outros verbos, os mantêm longe do alcance do Ministério Público e do Judiciário.
A elite econômica que sustentou o bolsonarismo desde 2018 está viva e ativa e mantém a arrogância dos impunes, ao lado dos militares, porque até agora não há ao menos um manezão golpista, um só, na lista de manés presos. Nem indiciados.
Há um coronel encarcerado, mas não há um manezão. O manezão financiador da violência, da mentira e do ódio está certo de que não conseguem provas contra ele.
O manezão poderoso sabe que hostilizar, importunar, assediar e agredir verbalmente são apenas verbos no infinitivo. Só isso.
O sistema de Justiça terá de mostrar que tem provas contra o fascismo com dinheiro, ou tudo o que foi feito desde abril de 2019 terá uma única serventia: fortalecer a violência bolsonarista impune porque protegida pelo poder econômico.
*Jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim).
Publicado no Blog do Moisés Mendes.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.
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