Po João Ximenes Braga
Compartilhado por
Central de Jornalismo
26 de dezembro de 2021
“Em certas regiões dos EUA, mais especificamente nos subúrbios de classe média alta, faz parte da cultura natalina mandar, à guisa de cartão desejando felicidade e prosperidade aos amigos, uma foto da família.
É o oposto da foto tradicional da família brasileira, da galera sem camisa em torno da churrasqueira (sim, sou do tempo em que a Economia permitia churrasco).
São fotos feitas por fotógrafos profissionais, posadas, muitas vezes usando roupas específicas de Natal: gorros com renas, suéteres com boneco de neve de gorro de papai Noel.
O vídeo do casal marreco-pata remetia a isso. A exatamente isso. Procure algum sinal de brasilidade ali. Não há. Rosângela e Sérgio Fernando se apresentam como um casal americano.
Muito antes da Vaza-Jato revelar espiões da FBI e CIA no entorno da República de Curitiba, já se sabia do treinamento de Sérgio Fernando pelo DOJ no famigerado Projeto Pontes, que propulsou a onda de lawfare que fez política de terra arrasada com os governos progressistas da América Latina. Não há nada de teoria conspiratória em considerar que Moro possa ser agente dos Estados Unidos. Não há nada de teoria conspiratória em considerar que seu emprego na consultoria Alvarez e Marsal seja um pagamento por serviços bem prestados no Golpe de 2016.
Lembrei da série “The Americans”, centrada num casal de espiões soviéticos que atua nos EUA durante a Guerra Fria.
O curioso é que o casal da série faz de tudo para convencer todos à sua volta de que são locais, isto é, americanos. É um disfarce. Já o casal marrecopata (mistura de sociopata e pescotapa) faz de tudo para nos convencer de que são americanos. Uma espécie de “The Americans” do outro lado do espelho.
Se é alguma sacada novíssima de espionagem, não sei. Mas aposto que é apenas sinal de sua absoluta sabujice.
O discurso persecutório
Como a Júlia Camargo apontou, o discurso é de vitimização, puro mimimi. Sérgio Fernando fala em “fazer as pazes com quem precisa”, e Rosângela cita a bíblia para dizer que “eu me alegro também com os insultos, sofrimentos e perseguições”.
Sabe quem também sofria com perseguições, insultos e sofrimentos? Os alemães que apoiavam Hitler. Que se tornou o que se tornou porque conseguiu convencer esses alemães que eles eram vítimas dos judeus.
Sabe quem também usou esse discurso? Ele, o putrefato, e seus milicos. Perseguidos pelo “politicamente correto” etc.
Então já deram o tom da campanha. Os petistas seremos acusados de perseguição, sofrimento etc.
E a grande mídia vai embarcar.
O ‘verrrr fículo’
Falando em grande mídia…
Rosângela já havia dado entrevistas à TV antes, mas acho que ninguém teve interesse em ver, daí muita gente ter ficado surpresa com sua voz de dinossauro fanho.
É chocante que essa senhora tenha posado para revistas de moda. Trabalhei com jornalistas de moda nos anos 90, conheci pelos menos duas Mirandas Priestley. Tenho certeza que nenhuma delas daria uma página de perfil para essa senhora, que derrama falta de elegância a cada movimento. Caso dessem, o texto seria irônico. O destaque que deram a essa senhora na grande imprensa revela-se — mais que nunca depois do especial de Natal — um forte sinal da decadência ética e estética da mídia brasileira.
Notem, se ressalto sua falta de elegância e cafonice, o problema não é ter defeito de fala e sotaque caipira. O problema é ser caipira e fingir que não é.
É fingir que é um casal americano dos burbs. Pra disfarçar que são espiões.”