Pepe Mujica, o “presidente mais pobre do mundo”, enfrenta seus últimos dias e deixa um legado de simplicidade e luta

José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai conhecido por seu estilo de vida modesto e suas políticas progressistas, anunciou recentemente que está morrendo em decorrência de um câncer no esôfago. Aos 89 anos, o ex-guerrilheiro que passou 13 anos preso durante a ditadura uruguaia, com metástase generalizada, encerrou o tratamento e se despediu em uma comovente entrevista, pedindo para ser deixado em paz.

Mujica conquistou a admiração mundial por sua recusa em adotar os privilégios do poder. Durante sua presidência (2010-2015) e mesmo depois, optou por viver em sua chácara nos arredores de Montevidéu, dirigindo seu Fusca 1987, o único bem declarado em seu patrimônio. Doava a maior parte de seu salário e se definia como “um velho louco”, avesso aos protocolos e mordomias.

Sua trajetória, porém, vai muito além do folclórico. Integrante do movimento guerrilheiro Tupamaros, Mujica participou de assaltos a bancos e enfrentou anos de confinamento em condições precárias, chegando a criar laços com uma rã para superar o isolamento. Após a redemocratização do Uruguai, ingressou na política, sendo eleito deputado, senador e, finalmente, presidente.

Seu governo foi marcado por importantes avanços sociais, como a **legalização do aborto**, do casamento igualitário e da maconha. Defendia a redução do consumo, o aumento do tempo livre e a busca por uma vida mais simples, questionando a necessidade de acúmulo de bens materiais. “O Uruguai tem 3,5 milhões de habitantes. Importa 27 milhões de pares de sapato. Para quê?”, provocou em entrevista ao New York Times.

Mujica também ficou conhecido por sua franqueza e por defender o diálogo, mesmo com adversários ideológicos. “É fácil ter respeito por quem pensa parecido conosco, mas é preciso aprender que o fundamento da democracia é o respeito aos que pensam diferente”, afirmou. Essa postura se refletiu em episódios como a sua polêmica declaração sobre o casal Kirchner, da Argentina, a quem chamou de “velha” e “vesgo”, gerando um incidente diplomático.

A história de Pepe Mujica é um exemplo de coerência entre discurso e prática. Mesmo diante da morte, ele se mantém fiel aos seus princípios, deixando como legado a reflexão sobre a busca por uma vida mais justa, igualitária e menos consumista. “Quando chegar minha hora de morrer, vou morrer. Simples assim. Até aqui, cheguei”, declarou

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