Bom dia, bom dia feicibuquers de mi corazón- Por Grace Maya

Por Grace Maya
Central de Jornalismo
05 de Abril de 2021
Foto: Dayse Lima

Conversando com um amigo essa semana, sobre a possível volta à fase um aqui na Argentina, causada pelas novas cepas, que são mais contagiosas e nos fazem pensar que esse pesadelo pode demorar ainda muito mais tempo para se controlado, me chamou atenção essa frase: “Queremos voltar a ter a liberdade de antes”. Falávamos justamente sobre essa mania das pessoas de cultuarem o passado. A nostalgia humana não tem limites em seu delírio. Todos sabemos que não podemos voltar ao passado, sabemos mais! Sabemos que não se pode repetir nenhuma experiência, ainda que eu faça tudo igualzin, igualzin para que seja tudo igual , nunca, jamais se pode repetir nada! Quem não lembra da sensação de comer algo pela primeira vez, da primeira vez que se ouve uma música, de visitar uma cidade pela primeira vez, da primeira vez que se usa uma droga, principalmente a primeira de tudo é algo que não se repete, mais ainda se a experiência foi boa. Os melhores momentos da vida são indeed irrepetíveis e não precisamos nem de Demócrito, nem de Deleuze para nos ensinar a diferença da repetição, crer que se pode voltar ao passado é naive e se torna perverso quando vemos as consequências dessa crença na política.

A igreja e, hoje mais que todos, o Estado neonazi sabem muito bem usar esse desejo humano a favor deles, são eles os que prometem e promovem a possibildade da volta, da volta ao paraíso, da volta dos bons costumes, da volta ao útero, quando tudo era perfeito! Essa infantilidade ou melhor incapacidade humana de tratar com a realidade, essa preguiça maligna que a raça humana tem de aceitar as mudanças em contradição com tudo ao redor que está em constante movimento, é isso que aduba o cenário político de todos os tempos. Como pode ser, que depois de anos de mudanças, nós somos tão os mesmos? Ou não somos todos uns egoístas delirantes querendo voltar a tomar um leite dessa teta que nunca existiu.

O passado da humanidade é tão sangrento quanto sempre, posso até especular que a quantidade de litros de sangue derramados por hora mantém sua porcentagem relativa em níveis bastantes estáveis. Entre as batalhas sangrentas narradas no pentateuco e Bhagavad Gita e os hospitais modernos do nosso progresso, ainda há muita semelhança. Entre as explicações supersticiosas e as negacionistas, existe alguma diferença? Talvez, mas a modernidade não trouxe à superfície nada mais que a ignorância!

Então a pergunta seria: para onde queremos voltar? À normalidade – diriam alguns apressadinhos! Reflexiono sobre isso, porque também desejo voltar a ter liberdade, mas então me lembro que passei muitos anos sem viajar. Sempre que me dava vontade de viajar me dava conta que eu não podia, não podia porque não podia perder as aulas, em outros tempos,não podia viajar porque trabalhava, outros tempos porque não tinha grana, e agora não posso pela quarentena. Mas eu poderia dizer que tenho menos liberdade hoje?

Que liberdade, papá? Que liberdade? Quaaando na história a classe média e baixa souberam o que é liberdade, quando os fucking humanos souberam o que é isso? Me atreveria dizer que muitos milionários tão pouco nunca foram livres. Nossos senhores são muitos e diversos, não somos escravos de um só senhor, não, Jeová divide seu reino com a indústria alimentícia, a indústria farmacêutica, o Estado, até mesmo a igreja e todas as instituições,somos escravos também de nosso passado traumático e de tudo que nos foi ensinado como “normal”.

Somos escravos dessa moralidade judeo-cristã normalizada e entendida como natural, mas que foi criada para favorecer apenas as mesmas oligarquias desde Platão e sua maldita república, que desde então, ocupa um lugar de relevância acima da vida e da liberdade humana.

Me pergunto então, que liberdade realmente desejamos? Que normalidade realmente desejamos? Quais são nossos verdadeiros obstáculos? O que perdemos com a quarentena?

Muitos perderam seus empregos, muitos perderam pessoas amadas, mas sem querer ser fria e calculista, sugiro que talvez seja o momento de começarmos a pensar fora de nosso umbigo e nos perguntar enquanto sociedade, o que perdemos realmente?

Que a resposta não seja somente que perdemos a maldita esperança, que sempre nos fez seguir cegos e melancólicos sem saber para onde vamos, com nossa vidinha bem cuidada debaixo do braço e armas e discursos enferrujados cheios de medo, muito medo de mudanças. Na verdade, a única coisa que a sociedade capitalista precisa perder é exatamente isso, o medo!

Vamos para mais uma semana de espectadores do espetáculo do horror do qual somos incapazes de reagir! Vamos para mais uma semana de posts indignados entre uma taça de vinho e uns capítulos de Netflix! Vamos para mais uma semana onde todos somos cúmplices da barbárie humana em seu apogeu! Mais uma semana que não conseguimos nos organizar para tirar um genocida insano do comando!

Desejo a todos vocês uma semana com força e luz
Fiquem bem, se cuidem!

Grace Maya

Foto: Dayse Lima

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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