CPI é oportunidade para julgar decisões que levaram à tragédia, diz Mandetta

Ex-ministro da Saúde defende CPI da Covid e afirma que enfrentamento da pandemia poderia ter sido melhor

Por Gregory Prudenciano e produção de Juliana Alves, da CNN
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Central de Jornalismo
9 de abril de 2021

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse ver com bons olhos a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado para que se investigue a condução do governo federal e eventuais omissões em meio à pandemia da Covid-19.

À CNN, o também ex-deputado federal, que é filiado ao Democratas, tratou a CPI como um processo natural para que se passe a limpo como os governos e a sociedade brasileira têm lidado com o desafio sanitário.

“Talvez, com essa CPI, a gente consiga um efeito colateral. Quando se espera muita crise, talvez ela seja indutora de se reorganizar. Ainda temos um caminho muito longo até termos um controle minimamente eficaz dessa doença”, afirmou.

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Para Mandetta, não se deve esperar que a CPI seja usada como arma política contra o governo federal, mas sim que todos os atores políticos envolvidos no enfrentamento da pandemia passem por escrutínio público, incluindo governadores e prefeitos.

Mandetta comandou o Ministério da Saúde desde a posse do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em janeiro de 2019, até abril de 2020, quando deixou o cargo por atritos com o chefe do Executivo. O ex-ministro pode, inclusive, ser chamado a depor na CPI. Segundo o político, já há uma distância temporal “razoável” desde o começo da pandemia que permite um julgamento adequado das ações.

“A CPI vai acabar desnudando o nosso comportamento por inteiro como sociedade. A indução das fake news, a manipulação dos números, isso tudo faz parte da história de como o Brasil enfrentou [a pandemia], e faz parte desse resultado trágico que a gente está tendo. É lamentável, não precisava ser assim, e acho que esse é o ponto que incomoda muita gente. Não havia porque de nós termos tomado decisões tão equivocadas como foram tomadas nessa pandemia”, disse Mandetta à CNN, sem citar nomes.

O ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta em entrevista coletiva
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta em entrevista coletiva
Foto: Adriano Machado/Reuters (7.abr.2020)
Entenda o caso

Na quinta-feira (8), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso determinou a instalação da CPI da Covid-19 no Senado. A decisão veio em resposta a pedido dos senadores Alessandro Viera (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO).

A CPI já tinha assinaturas suficientes para ser criada, mas o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), se recusava a prosseguir com a instalação.

A decisão de Barroso foi criticada por Pacheco, para quem a comissão é inapropriada para o momento e poderá se tornar “o coroamento do insucesso nacional do enfrentamento da pandemia”. Apesar das críticas, Pacheco se comprometeu a instalar a CPI assim que receber a notificação do STF.

Para Bolsonaro, CPI é interferência do STF em outro poder

Em entrevista à CNN na noite de quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse ver na decisão de Barroso mais uma interferência do Supremo no Legislativo, e defendeu que o STF tem interferido “em todos os poderes”.

Na manhã de sexta-feira, Bolsonaro publicou mais críticas ao ministro em suas redes sociais, e afirmou que a Barroso falta “coragem moral” e sobra “imprópria militância política”.

O ministro se defendeu e disse que sua resolução está em linha com a Constituição e aconteceu após consulta a outros integrantes da Corte.

Em nota, o STF afirmou que os ministros que o compõem “tomam decisões conforme a Constituição” e que eventuais questionamentos “devem ser feitos nas vias recursais próprias, contribuindo para que o espírito republicano prevaleça em nosso país”.

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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