Na beirada do abismo, Bolsonaro disfarça o desespero

Bolsonaro é um caso único de ignorância militar. Ele parece acreditar que venceu a eleição com a mesma audácia utilizada por Felipe II, o caolho, na Batalha de Queroneia (338 aC).

Por Fábio de Oliveira Ribeiro/DCM
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Central de Jornalismo
11 de maio de 2021

Este fim de semana, o presidente brasileiro comemorou a chacina no Rio de Janeiro reunindo uma multidão nas ruas de Brasília. Ele obviamente precisa desesperadamente demonstrar segurança entre os seus no momento mesmo em que sua situação ficou mais frágil. Não bastasse a CPI do Genocídio, o escândalo do bilionário Orçamento Secreto para comprar votos no Congresso vai ocupar o centro das atenções esta semana.

Bolsonaro é um caso único de ignorância militar. Ele parece acreditar que venceu a eleição com a mesma audácia utilizada por Felipe II, o caolho, na Batalha de Queroneia (338 aC). Mas a verdade é que ele fugiu dos debates com Fernando Haddad (e alguns suspeitam que ele pode ter forjado o atentato que o transformou de vilão em vítima).

Sobretudo, o futuro ex-presidente do Brasil despreza um dado histórico importante. Felipe II sobreviveu a diversas batalhas e “… evitou muitas vezes a mãos dos inimigos mas não conseguiu fugir às mãos dos seus” (Quinto Cúrcio Rufo, Livro IX, §6). Todas as batalhas do capitão cloroquina foram imaginárias.

Muito embora Bolsonaro empregue a técnica de recuar atirando, o mundo inteiro já percebeu que ele é incapaz de dar o golpe final nas instituições brasileiras. A única coisa que ele realmente podia fazer ele já fez: reativar seus robôs no Twitter e no Facebook. O espaço de manobra deles, porém não será o mesmo que eles tinham durante a eleição de 2018.

A espada da Justiça continua fora da bainha e apontada para o coração do bolsonarismo. O Inquérito das Fake News no STF não terminou e pode em breve morder o calcanhar do general das tropas virtuais do mitômano.

O que Bolsonaro fará quando Carlos Bolsonaro for preso? Nada. Foi o que ele fez quando Sara Winter e quando o deputado Daniel Silveira caíram em desgraça. O bolsonarismo é um culto de morte, mas seu líder não está disposto a morrer para salvar ninguém.

Quando era soldado o futuro ex-presidente do Brasil se destacou mais pela ambição do que pela valentia. Todavia, me parece evidente que Bolsonaro também é vulnerável nas mãos de um Exército que se recusa a jurar lealdade à pessoa do Führer bananeiro. Exército que, aliás, ele não ousa expurgar dos seus desafetos como fez Stalin em 1937.

Na presidência há mais de dois anos, o mito não garantiu um espetáculo de crescimento. O desemprego e o desespero aumentaram. A fome retornou. A arrecadação tributária declina vertiginosamente. O isolamento diplomático sufoca a economia brasileira. E para piorar Bolsonaro despertou mais ódios do que temores e criou mais inimigos do que aliados.

Com Lula na disputa eleitoral, Bolsonaro ficou desesperado. Ele parece acreditar que conseguirá sobrepujar todas as dificuldades para disputar a eleição em 2022. O tempo dele, porém, está acabando. The clock is ticking… como dizem os ingleses.

As opções disponibilizadas pelo Zeitgist https://pt.wikipedia.org/wiki/Zeitgeist no cardápio do presidente brasileiro são muitas (impeachment, interdição, denúncia por genocídio, renúncia ou suicídio), mas ele se recusa a fazer uma escolha e prefere dizer que só Deus pode tirá-lo do poder. A verdade, entretanto, é que Bolsonaro está mais perto do inferno do que de qualquer divindade. Nenhum pastor poderá salvá-lo. No contexto atual, um golpe de estado bem-sucedido seria algo milagroso e os milagres são produtos caros que se tornaram escassos.

O fim da bestialidade bolsonarista está próximo… Um recomeço para o Brasil, entretanto, parece bem mais distante. O estrago produzido pelo golpe de 2016 e pela subsequente vitória eleitoral do genocida bananeiro foi imenso e será duradouro.

Do autor:
Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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