Cuba Libre- Por Grace Maya

Por Grace Maya
Central de Jornalismo
19 de julho de 2021

Bom gente, o inverno é gostoso, mas me paralisa o corpo, demorei para conseguir concentrar, é incrível que quando o corpo não vai, o cérebro é só uma massa pesada de carregar. Passei a noite entre um sonho e outro pensando no quê escrever sobre Cuba. Me lembrei no meio dos meus devaneios, que um dia postei algo sobre Cuba no Facebook e um senhor que acabei bloqueando posteriormente, coisa muito difícil de acontecer te digo, escreveu mil comentários no post criticando a postura de Cuba. Okay, eu não vou advogar nunca a favor de nenhuma ditadura, quem vem lendo meus textos sabe que minha onda é criticar alguns pontos específicos que me parecem importantes para abrir um debate e sempre tentar salvar algo.
Eu não defendo nenhum tipo de ditadura, mas vamos combinar, que a essa altura já sabemos todos, que a pior ditadura de todas é o capitalismo neoliberal! Esse é tão violento, tão criminosos, tão genocida, tão nazi, tão preconceituoso e moralista como qualquer regime facista declarado e nem por isso vamos todos fugir para o mato e viver de isolados para sempre, de última podemos fugir para Cuba. ( risadas irônicas)
Então, vamos ver o que podemos pensar sobre esse mini mini mini país, que incomoda tanto. Cuba é como aquele espinho minúsculo, sabe? Aquele que dói muito e que você precisa de uma pinça e uma lupa para poder achar e tirar o mais rápido possível. Pelo menos, assim deve ser para o governador da Flórida, que semana passada deu um ataque e disse que o melhor seria bombardear Cuba! Imagina o desespero do sujeito que não conseguindo tirar o espinho invisível, resolve explodir seu pé para resolver! Pára né! Deixa de ser louco, meu filho!
Mas por aí podemos ver, que apesar de ser mini mini mini, Cuba incomoda o gigante mega power indestrutível do Tio Sam! E esse não tem vergonha de dizer publicamente, em alto e em bom som, que seu mini inimigo não o deixa dormir. Então me pergunto: Não seria mais fácil somente deixar fluir, afinal de contas o capitalismo está presente contaminando aos poucos a ilha utópica e aos poucos vemos sua cultura sendo contaminada pelo pior vírus da história, o pensamento neoliberal, será que não é suficiente? Precisam bombardear? Como assim?
Eu nunca fui a Cuba, em geral viajei pouco na vida, mas conheço muita gente que foi muitas vezes e me contam dessa contaminação. Eu também vejo a influência ianque na cultura cubana, quando busco música cubana no Youtube, meu deusu, cada coisa horrível que aparece, me dá desespero, quero ouvir um som cubano, um jazz, e acabo ouvindo uma espécie de cumbia americana.
Obviamente, não vamos discutir pormenores, ou sintomas, e não vamos entrar na discussão econômica de como manter o socialismo como um projeto de expansão mundial, analisando possibilidades e planos em relação a revolução em Bolívia e Venezuela, como parceiros ou sugerir planos econômicos para concretizar esse projeto. Tudo isso me parece demasiado complexo para um simples artigo de segunda, mas sim, gostaria de refletir sobre o que representa em nosso imaginário esse país tão pequeno, mas tão potente enquanto representação de um ideal político.
Mas então… quando falamos de Cuba, pensamos em quê? Em Cuba Libre, em Fidel, no Che Guevara, em Buena Vista Social Club, em Marx, mas pensamos também no povo, o povo cubano.
Quem são os cubanos na matrix? Fidel não é o povo, Che Guevara não é o povo, que é o povo cubano?
Primeiro é um povo que resiste ao embargo americano, e mantém isso com índices de indicadores sociais paradisíacos em muitos aspectos. Digo paradisíaco, se você se permitem imaginar comigo: Imaginem nós sendo burgueses, ou semi aburguesados, podendo acordar tranquilamente em nosso conforto burguês, tomar um café, um suco de laranja, um pão com queijo, nada muito chique, um básico, uma fruta, e nesse momento parar e pensar que não existe nenhuma criança com fome no mundo. Que diferente seria tudo ! A famosa culpa burguesa seria disseminada, não sentíamos culpa de ser burgueses, poderíamos desfrutar de nosso conforto, sem culpa, porque nos quatro cantos do planeta todas as pessoas teriam algo para comer. Realmente é algo demasiadamente revolucionário! Esse equilíbrio energético em níveis planetários seguramente resultaria em mudanças imagináveis! A primeira mudança seria o papel da igreja, que sem ter o poder da culpa, teria que reinventar seu discurso.
E se junto a esse cenário, toda comunidade de humanos fosse alfabetizada e tivesse acesso a saúde pública de qualidade. Realmente, seria outra matrix! Quando vemos os ataques à saúde pública no governo bozo, e níveis de escolaridade no Brasil, sem falar na incapacidade de crítica e interpretação de texto do povo brasileiro, vemos quão na contramão do liberalismo o exemplo cubano resiste. Resiste para nos despertar o pensar de uma simples possibilidade absurda de um mundo onde os humanos não aceitassem a miséria gerada pelo capitalismo como algo normal.
Sim, esse tipo de pensamento, o tal do normal, é confortável para maioria de classe média burguesa que quer seguir em suas vidas bem merecidas, pelo seu esforço, ou graças a deus. Mas o certo é que todos sabemos que existe aquele espinho no pé, aquele lugar, aquele povo que resiste com esperança de não se deixar consumir completamente pelo ideal enganoso da liberdade e do progresso neoliberal. Não queremos acreditar nisso!
Obviamente, a imprensa, que faz o papel de nossa consciência, tende a questionar a convicção do povo cubano! Muitas vezes os mostram como prisioneiros, como vítimas de um regime ditatorial. Mas te pergunto: realmente são vítimas da ditadura ou são muito mais vítimas do imperialismo americano? Mesmo com todo embargo que sofreram ao longo das últimas décadas e cada vez mais forte, eles conseguem manter sua população vivendo em níveis de dignidade mínimos, se comparamos com o tio Sam e sua população, com os níveis de pobreza, analfabetismo e violência mais altos do planeta. Claro, esquecemos disso, né, esquecemos porque eles nos vendem seu estilo de vida como a melhor forma de viver, o país da liberdade, o sonho americano de progresso e liberdade! Compramos essa mentira, mesmo sabendo que os EUA têm a maior população carcerária do planeta e um histórico de guerras nada condizentes com esse sonho de liberdade. Mas ao final, achamos que é mais fácil pensar os cubanos como vítimas!
Por isso, o monstro comunista ainda vive, como em um conto infantil! Ainda que a União Soviética não exista mais, e que Cuba, em sua infinita pequinês, resista, esse monstro ainda incomoda muito os capitalistas de plantão, gerando assim ataques de fúria e discursos de ódio contra Cuba e a vitimização do seu povo, que precisa ser salvo pelo liberalismo progressista.
É aqui, nesse sonho encantado, que o cenário de consumo toma cada vez mais protagonismo, a busca da diferenciação, da individualização, a busca de uma falsa identidade proposta pelo liberalismo, produz todo o fetishe do consumo, que promete acabar com angústia que gera essa realidade perversa em que vivemos todos. Também queremos que Cuba venha desfrutar conosco, pensamos claro! Porque queremos seguir comprando nossas coisinhas que nos fazem sentir tão especiais, mesmo sabendo que geramos miséria! O fetishe da mais valia é sangue de inocentes nas mãos burguesas, que se apressam a comprar mais e mais como se não houvesse um amanhã e queremos que os cubanos aceitem esse pacto assim como nós, porque a simples existência deles causa náuseas profundas nos nossos estômagos burgueses.
Não só os humanos sofrem a miséria do fetishe de consumo, o planeta sofre o absurdo consumista e chegamos a níveis de destruição da natureza inconcebíveis a longo prazo, estamos destruindo tudo e ao mesmo tempo achamos que Cuba é um absurdo e eles são vítimas. E com isso, justificamos o ataque americano por se tratar de algo muito mais fácil de aceitar, já fizemos o pacto de sangue e não queremos mais pensar nisso, estamos todos em um movimento de pulsão de morte, o planeta pede socorro e criticamos os poucos que ainda resistem à hegemonia imperialista.
O sistema de consumo, uma vez que está configurado, que se repete incessante em uma alienação sem afetos, não somos nada, somente compramos, e temos, cada vez mais coisas e somos cada vez menos humanos. No capitalismo não há espaço para afetos, não é possível suportar o capitalismo sendo afetivo né! Cada vez mais nos tornamos insensíveis ao sofrimento, podemos ver isso com a pandemia, são tantas as mortes, tantas mortes, e nós seguimos nossas vidas como se nada estivesse acontecendo.
Para eu realmente exercer minha liberdade, preciso mesmo me tornar um bicho insensível e egoísta ? Quando pensamos nisso, entendemos porque cada vez é mais difícil pensar na possibilidade socialista, nos recusamos a acreditar nessa possibilidade, nos recusamos a acreditar que o povo cubano acredita na revolução cubana, nos recusamos aceitar essa possibilidade que nos tira da nossa área de conforto, cinicamente construída para perpetuar e proteger nosso egoísmo.
O individualismo torna impossível pensar novas conexões, paradoxos, aporias, produzir um novo conceito, o individualismo liberal nos torna incapazes de pensar contra essa forma de organização que deve sempre servir, sempre produzir e consumir insanamente, comportamento que somente favorece ao sistema hegemônico. Perdemos a capacidade de pensar e com isso a possibilidade de nos permitir a ruptura.
Seria melhor que Cuba fosse Haiti, né? Não estaríamos sendo obrigados a refletir, seria tudo como em um filme de Hollywood: um resultado, uma moral, uma forma de ver o mundo, tudo servido de bandeja pro nosso banquete burguês de reafirmação de nossas tão perfeitas condições.
Cuba nesse sentido é uma ideia de possibilidade, uma simples possibilidade de resistir, essa possibilidade é uma luz na escuridão. Cuba é um lugar antes de tudo, um lugar físico e material de resistência.Esse lugar não é ideal platônico, não é o paraíso bíblico, Xanadu, não não é, principalmente porque Cuba não é o seu ou o meu desejo, é o comunitário que ainda resiste.
Até quando poderemos suportar que não existe uma criança dormindo na rua, que seja cubana? Podemos suportar essa ideia? Vamos negar essa possibilidade e seguir vivendo o capitalismo como se não existisse outro sistema possível? O socialismo, o comunismo, o anarquismo não são sistemas ideais, o ideal faz parte de outro sistema. Precisamos aprender a pensar fora desse sistema lógico, que o liberalismo nos impõem, mas para isso precisamos primeiro acreditar que é possível. O povo cubano acredita, são poucos, como sempre, mas existem.
O que interessa aqui é o que Cuba significa para o mundo inteiro! Cuba é um lugar, é uma ilha pequenina, um lugar concreto, um lugar que dá lugar a outras possibilidades, outras possibilidades de desejo, outras lógicas e outros afetos!
Quanto tempo vai conseguir resistir? Quanto tempo poderemos ainda ver com nossos olhos uma cultura que defende a revolução com tanta esperança?
Qualquer que seja seus defeitos, queremos Cuba livre! Não esperamos a intervenção militar estrangeira como solução, desejamos que Cuba seja livre para abrir caminhos, que se termine o embargo comercial e financeiro estadunidense, que se intensificou nos últimos anos e que é um fardo demasiado pesado para os cubanos, que verdadeiramente não merecem! Devemos a eles nossa única esperança, uma certeza que sempre haverá lugar para um pensar diferente, a esperança que ainda há lugar para a resistência!
Grace Maya
veste @basurafashionart
Julho de 2121 – Buenos Aires

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