Apagão em SP monopoliza campanhas, muda rumos e acirra embate entre Nunes e Boulos

O apagão em São Paulo mexeu com as campanhas de Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) e passou a monopolizar a dinâmica do segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo.

Junto com troca de acusações e de responsabilidades de grupos políticos rivais, a crise mudou os rumos dos candidatos nas ruas, nas redes sociais e na propaganda eleitoral, levando também à reviravolta nas agendas e pautas diárias e à apresentação de novas promessas pelo psolista, sobre um tema até então deixado em segundo plano na eleição paulistana.

Ainda na sexta-feira (11), com os estragos do temporal, a campanha de Boulos avaliou que estava diante de um fato novo e negativo para o atual prefeito, algo importante para um candidato em desvantagem.

Segundo pesquisa Datafolha, Nunes lidera a disputa, com 55% ante 33% de Boulos. O deputado também enfrenta alta rejeição, com 58% que não votariam nele de jeito nenhum -são 37% no caso do oponente.

O apagão foi o principal assunto nos últimos debates. O destaque foi para a troca de acusações em relação às responsabilidades, com o candidato do PSOL culpando a prefeitura pela falta de poda de árvores e o emedebista atacando o governo de Lula (PT), lembrando que a concessão é federal para desgastar o padrinho do adversário.

Nunes afirmou que o problema não irá prejudicar sua campanha, mas, sim a de Boulos. Em reação às investidas do rival, que explora o tema para cobrar o prefeito e tentar colar nele as pechas de fraco e incompetente, Nunes afirma que Boulos se omitiu como parlamentar e quer apenas “lacrar”.

Ambos concordam, contudo, na revogação do contrato com a concessionária Enel. Boulos promete tirar a empresa, e Nunes fala que só não rompeu o contrato porque a concessão é de atribuição federal.

A propaganda do horário eleitoral também sofreu alterações. Os anúncios do PSOL levaram ao ar relatos de pessoas prejudicadas e denúncias contra a prefeitura, enquanto as peças do MDB priorizaram a ação do prefeito diante da calamidade e a mensagem de que o adversário só sabe reclamar.

Nunes e Boulos também modificaram em cima da hora os atos de campanha no fim de semana. O primeiro buscou se mostrar no comando das operações, enquanto o segundo enfatizou a própria situação -sua casa, no Campo Limpo (zona sul), ficou sem luz- e visitou áreas atingidas. Tudo foi parar nas redes sociais.

Repetindo o tom revoltado do debate na noite anterior, o deputado afirmou que o adversário não tem firmeza para cobrar providências da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Ele também diz que o diretor-geral do órgão, Sandoval Feitosa Neto, foi indicado por Jair Bolsonaro (PL) e que, como o ex-presidente é apoiador de Nunes, deveria ser acionado para contribuir na pressão.

“Se for um prefeito com firmeza, com força, o prefeito de São Paulo tem muito poder de chegar lá e garantir os interesses da cidade. O problema é que nós temos hoje um prefeito que se acovarda”, disse.

Também na última terça, o candidato à reeleição argumentou que “a prefeitura deu a pronta resposta”, com 4.000 homens na rua, e que o plano de contingência “foi muito ativo”. Segundo ele, o contraste é entre “um prefeito que tem a voz altiva” e um deputado “que passa pano nessa questão da Enel”.

A campanha do PSOL reiterou a ordem de centrar esforços no desgaste de Nunes por causa do apagão, num esforço para desidratá-lo e tentar criar condições para uma eventual virada. Aliados afirmam que, em pesquisas internas, a distância entre eles vem diminuindo desde o início da crise.

A mudança de cenário foi ao encontro da estratégia definida por Boulos para tentar capturar parte dos eleitores de Pablo Marçal (PRTB) e que inclui demonstrar indignação e combatividade.

Aliados de Nunes afirmam não acreditar que o apagão possa custar a reeleição dele. As redes do emedebista abordam o tema como forma de atacar Lula no momento em que a campanha busca herdar votos antiesquerda de Marçal e também de bolsonaristas. Tarcísio também entrou na linha de frente do embate com o governo federal e com a Enel, dando respaldo à posição do prefeito.

O pacote de Boulos incluiu ainda novas propostas no horário eleitoral, como ampliar as equipes de poda e dotá-las de equipamentos de braços articuláveis. A justificativa é que esses maquinários permitiriam cortar os galhos próximos à rede elétrica sem colocar em risco os funcionários da manutenção.

O candidato também defende usar tecnologia e inteligência para monitorar o histórico e a situação das árvores. Para isso, fala até em instalar chips nelas e observá-las com satélites.

Nunes também afirmou que vai instalar chips nas árvores mais antigas. Segundo a prefeitura, além dos chamados feitos por cidadãos, há busca ativa e inteligência artificial, usando um sistema chamado Gaia.

A gestão Nunes também vem reiterando que, por segurança, galhos em contato com a fiação elétrica só podem ser removidos pela Enel. Segundo o prefeito, há 6.000 ordens de serviço em aberto, de podas desse tipo não realizadas pela empresa.

Ao apresentar suas propostas sobre emergência climática, Boulos reforçou a promessa de zerar a fila de podas. A prefeitura diz que há 14,6 mil ordens de serviço para poda e remoção.

Em reação às promessas do adversário, Nunes afirmou que ele “não tem noção e apertou o botão desespero”, mas evitou apresentar novas propostas, dizendo que pretende dar continuidade ao processo.

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