Um bê-à-bá do conflito palestino!- Por Grace Maya

Desde o começo da quarentena, mudei bastante meus textos, antes eu escrevia de forma mais autobiográfica digamos, obviamente tinha meu típico tom crítico, mas muita gente percebeu a mudança. Com a obrigação de ficar em casa e a vida se resumir a manter o cesto de roupa vazio e a pia da cozinha sem pratos para lavar, comecei a ter de ser mais direta no tema político, mas entendam, eu nunca fui neutra, é justamente o contrário, minha postura política por anos foi a razão de muita gente não me convidar para suas festinhas happy hour, digamos que eu era a famosa pesada, a chata que só fala de coisas políticas. O certo é que nunca fui partidária e nunca serei, mas também é certo que se preciso tomar um lado, vou de esquerda óbvio. Esse é um fenômeno que o Bozóide fez acontecer no Brasil. Nos tornamos um país de republicanos e democratas e ao mesmo tempo deixou bem claro o tão ignorante as pessoas são, parece que todo mundo era péssimo em história na escola! De todo modo, ao meu ver, filosofia, política, capitalismo e religião sempre foram o mesmo assunto e é aí que o bicho pega !
Bom, já faz cinco anos que escrevo toda segunda e o tema de escolher o assunto me deixa louca a semana inteira, vão acontecendo coisas e vai ficando difícil decidir qual tema escolher. Essa semana o tal do Mc foi todo um tema, mas me recuso a escrever sobre ele, como a maioria das celebridades atuais, eu não tenho a mínima ideia de quem era, então vou esperar outro acontecimento para escrever sobre patriarcado. Aí tem a CPI, que não estou acompanhando de perto, mas essa novela não termina essa semana, então calma, vou ver se compensa, então sobra: Palestina
Falar sobre Palestina é correr o risco de ser mais cancelada e suicidada que já sou, já que quando opto por escrever me jogo e não quero nem saber se o povo vai ficar com raivinha(risos maléficos) Mas se tem um trem que dá medo nessa vida é falar desse povo do oriente médio, até eu que sou punk tenho medo, afe! Outro problema é que sempre temos a sensação que não entendemos nada que acontece lá, e acho que muita gente pensa o mesmo, assim que vou tentar dar uma geral no tema para vermos se temos um mínimo de ideia da treta em termos gerais.
Diferente de vários intelectuais que conheço, eu conheço com muita precisão de detalhes a história bíblica, pois é, confesso camaradas: eu fui uma crente ativista de Jesus, por 6 anos e por isso conheço essa treta de cor! Vejo muita confusão sobre o assunto, é um tema difícil de entender mesmo. Para começar devo dizer que não tenho nada contra os judeus, mas, obviamente, contra a moral judaica-cristã, sim, tenho milhões de ressalvas, mas não é nada pessoal, é contra a ideologia hegemônica patriarcal que quero lutar e sou contra. Então por favor me poupem com ataques baixos, a ideia aqui seria só dichavar essa treta, porque haja livro de história para ler, e se o povo não lê nem textão, imagina livros né.Sejamos realistas! Vamos lá, por onde começar? Pelo começo, Gênesis, a cosmologia judeo-cristã e poderia se dizer, dando um tiro bem longo, a cosmologia neoliberal em suas raízes mais exotéricas.
Os judeus começam a ser judeus com o famoso Abraão! Esse é conhecido! Sim, é o doido que ia dar o filho em sacrifício, tipo normal gente sacrificada, ….nam, vou pular esses detalhes, mas não foi só isso, antes, ele já tinha uma dupla tentativa de assassinato, que é a parte mais importante da novela. O cara mandou seu próprio filho morrer no deserto! O outro filho, o Ismael! O que nasceu da escrava e era o primogênito, mas a esposa do Abraão, a Sara, não curtiu a ideia de ter esse dois por perto, motivos óbvios, e deu a ideia de mandar eles a merda, assim de psycho começa essa história. O pior é que eles não morreram de sede e fome no deserto e isso acabou resultando nos mulçumanos, que por sua vez, são um tipo de judeus também, entende? Calma, vai vendo!
Aí depois vem a dupla sertaneja: Esaú e Jacó, gêmeos, filho do segundo primogênito ,o filho da Sara, o Isaac, o que safou de virar sacrifício. Jacó é o mesmo que se chama Israel,das 12 tribo de Israel, saca? Pensa, o cara que é o pai dos doze filhos, que são as doze tribo de Israel, comprou sua primogenitura por um prato de lentilhas em uma farça shakespeariana, quem não conhece a história completa, não vou spoilar mais, leia que é uma treta armada com ajuda da mamá.
Quem ouve isso, pode pensar que estou falando mal dos judeos, mas não, essa história está no pentateuco, os 5 livros mais sagrados, e foi escrita por eles mesmo, então continuo, calma que tem mais, meninnn, a bíblia tem mais emoção que Netflix.
Outra treta bárbara, que vai seguindo e é importante, treta novelesca para deixar as novelas mexicanas e brasileiras no chinelo, é a novela do Davi e o filho dele, o famoso Salomão, sim o sábio mega duper milionário, que se apaixonou pela a negona gata diva mor da época, a Beyoncé do deserto, e aí fudeu tudo, o “Jeová Corleone” ficou sabendo e como sempre se vingou! O Davi foi rei, é o mesmo do Golias e ainda mandou morrer o macho da mina que ele queria pegar. Mas tranquis, Jeová ficou com raiva como sempre, e se vingou como sempre… Seguimos…
Bom resumindo, é aqui, com David no reinado, que os judeos começam a ter mais poder né, a história dos judeus, que é a base da moral da sociedade capitalista neoliberal, não deixa pra trás nenhum thriller noir e até diria que antecipam o gênero gore. Os judeus realmente não têm vergonha de contar que seus gurus são assassinos, não é uma leitura doida minha, tá lá na bíblia, escrito que o David, o Moisés, o Abraão, são todos um pouco assassinos, mas de boa, porque a história não para por aí.
Sabe que os judeos ficaram de castigo por construir o bezerro de ouro quando foram livres do Egito, né? Pois é, como Jeová é muito ciumento, a punição foi ficar andando pelo deserto 400 anos, tipo filme neorrealista, mas não, diferente, era muito mais para terror mesmo, eles saiam matando todo mundo que viam pela frente, mas de boa, porque eles só matavam quem não era judeu e o principal objetivo era chegar na terra santa, essa terra é a mesma das tretas de hoje em dia. Aqui que eu queria chegar!8
Me parece que atualmente essa origem tem pouca importância, porque temos uma nova variável, que a bíblia não dá receita! Temos, estreando nessa novela, senhoras e senhores! Nada mais , nada menos, que… a galera mais gente boa do planeta: os Estados Unidos! Pois é, como se não faltasse ingredientes explosivos, temos eles os United States of America presente and forever!
Bom, aí fode tudo, porque os EUA são amigos do judeus, ou seja, amigos de Israel, não o cara, a galera, o país que se chama Israel, esse é um tema de hoje! E agora já dá pra ter uma ideia que é tenso mesmo!
Quando lemos nos jornais explicações sobre os conflitos da faixa de Gaza, só se fala de confusões de territórios, quem tem ou não direito a tal território, e o petróleo, e ONU, e tal, e tal…. outra controvérsia intratável: Jerusalém é capital de quem? E aqui vira um estica e puxa, todo mundo quer essa cidade pra ser sua, é a diva do oriente médio!
Okay, mas pouco se fala da presença dos Estados Unidos nesse território e acho que podemos entender muita coisa se vamos por aí, creio que, quando se ignora esse pequeno detalhe, não se entende nada.
Explicar todo esse tema como se fosse só um tema de território é muito simplista. Terra invadida é um tema comum, por exemplo em Brasília, quase tudo é terra invadida, cidade nova, era tudo do governo mesmo, daí o povo foi invadido, foi indo , foi indo e foi, tá tudo invadido mesmo! Brasília é pura tetra de terra, num falta gente chique mora em invasão, e não faltam processos nos corredores na justiça, mas então, porque o tema da Palestina fica tão tenso assim, a ponto do mundo inteiro está olhando? Petróleo! Vai saber se só isso, eu aqui vou contar só um básico.
Okay vejamos, vamos esquecer todo o passado, vamos tentar entender essa bagaceira a partir do séc 20, vamos ver qual a receita desse coquetel molotov atualizada!
Ingrediente um: o ódio contra os judeos
Se tem um tema importante no meio disso, é o ódio contra judeus! Como é que isso começa? Você já se perguntou? Vejamos! O movimento sionista, que buscava criar um Estado para os judeus, ganhou força, principalmente por causa do crescente antissemitismo na Europa, ação e reação. Mas verdade que a onda antisemita vinha sendo alimentada, nada mais nada menos pela igreja católica, sim claro, os católicos são super fãs de Jesus e os Judeos, tipo: “ahmmm, acho que vamos esperar outro Jesus”, e tal…. isso (!) faz os católicos e reformistas não curtirem nada, quem tem poder não curte ser questionado em seus pilares, treta!
Ingrediente dois: os árabes
Quando falamos de oriente, pensamos imediatamente em árabes e mulçumanos! Okay, temos o tema dos mulçumanos, briga de irmãos, isso já dá lenha, mas vejamos como começa a esquentar. O território que se tornaria o Estado de Israel pertenceu nos séculos antes ao império Turco-Otomano. Aqui outra treta, essa galera toda, que era um monte de tribos, com diferenças de todo tipo e diferentes costumes, como na África, foi dividida artificialmente em países, pós primeira guerra, daí vem o mesmo tipo de conflito que temos na África, essa divisão artificial, não respeita a realidade dessas tribos, que pra nós são tudo árabe, e aí o trem sai dos trilhos e pra entender com detalhes teríamos que detalhar a história de formação de cada país, não sejamos tão ambiciosos…
Mas temos que marcar um detalhe: No meio dessa coisa de chamar todo mundo de árabes, tem a Arabia Saudita, um estado mega, super, duper violento, poderoso e adivinha mais o que? Brothersissímos dos States também. Aqui já não falo nada, pensa você!
Ingrediente três: A falta de território
Com toda a treta do passado, com o Jeová ficando com raiva do bezerro de ouro e tal, os judeus acabaram ficando sem terra! O tema de não ter terra toma importância aqui, gente sem terra não é bem vista na nossa matrix, sabe né, dá uma ideia de liberdade e rebeldia que não agrada em nada os corações neoliberais.
Daí, entra a treta com Adolfo, que encontrou o inimigo perfeito para incitar o ódio e ganhar as eleições democráticas, funcionou! O Goebbels diz em seu diário “o que seria de nós sem os Judeos? Teríamos que inventá-los!”, sabe que eu tenho o diário dele aqui em casa, comprem, é uma aula de neoliberalismo. Com apenas 23 % dos votos, Adolfo chega ao poder e começa o genocídio mais famoso da história humana. Então, concluímos que essa coisa de incitar ódio não foi criada pelo Bolsonaro, mas sim é uma receita antiga. Botar uma cara no inimigo e fazer a fofoca rodar é uma tática infantil, mas muito eficiente.
Eles eram um alvo fácil, inimigos da igreja, grande detentora de terra, e aliada do facismo e posteriormente do nazismo, fechou!
Resumindo: Era fácil inventar algo sobre sua perigosidade, eram tipo uns ciganos, uns hippies com muita grana. Nessa época, a maioria dos eleitores era comunista, a famosa ameaça comunista, os nazis tinham que criar uma confusão grande mesmo, porque se a democracia fosse bem, os comunistas ganhariam. Você que é brasileiro te soa muito atual, né, o eterno retorno…pesadelo. Aqui também começa a luta comunista e a luta contra o preconceito. Aqui o cinema toma força, foram muitos filmes que inventaram absurdos sobre comunistas e judeos, fazendo eles de monstros, já vi vários, incríveis, muito parecidos com o cinema americano de hoje, que Goebbels tanta amava, fofocas e mais fofocas, ainda não existia fake news, mas já existia fake news, aqui a ignorância e o ódio começam a virar as cartas mais fortes do baralho e aqui fechamos!
Para quem teve a enorme capacidade e paciência de ler tudo isso, digo: parabéns! Vai descansar e boa semana!
Grace Maya
Buenos Aires
Maio 2021
Foto: Ramiro Antico
Veste: Basura – Fashionarte

Administrador

Fonte Segura: Central de Jornalismo

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