Crônica S/A – Um cafezinho e dois dedos de prosa

Vicente Sá

Tem dia que a gente acorda daquele jeito, passando praquele outro. Não, caro leitor, não é de ovo virado, ou pisando em brasa, como se diz lá no Nordeste. Acorda daquele jeito manso, doido pra falar com um amigo e trocar dois dedos de prosa. E o ideal, nestes dias, é que você encontre este amigo num boteco de esquina pra tomar aquele cafezinho em pé e ter esta rápida e agradável conversa.-

Estas conversas devem ter a mesma duração de uma crônica. Nem curta demais, nem longa, me advertiu uma vez o Filósofo da Asa Norte. E advertência de filósofo não é qualquer coisa, ainda mais do FAN.Mas é verdade, o tempo das coisas é muito importante para sua eficácia e plenitude. E antes que aquele leitor que ainda acha que Brasília não tem esquina, nem botecos onde você possa tomar um cafezinho em pé e, quem sabe, comer um salgadinho de validade duvidosa, enquanto rolam os dois dedos da prosa, se anuncie, eu aviso que tem.

O cronista Paulo Pestana, que entende muito das duas coisas, crônica e prosa com cafezinho, me adiantou em nosso último encontro imaginário, que o Setor Comercial Sul é um bom lugar para este tipo de esporte. Citou três pés sujos de inegável valor oratório e declinou até o nome dos seus melhores salgados.O Filósofo da Asa Norte, que também participava do encontro, falou na lanchonete do Mineiro, no CEASA, onde disse que rola um pastel de agradável sabor e olor incomparável, além de um bom suco de laranja, para aqueles que estão proibidos, pelos médicos, de ingerir cafeína.Não chego tão longe.

Meu habitat é mesmo a Asa Norte e, na minha asa, eu conheço alguns. O que eu mais frequento é a padaria do Português na 405. Ela fica ao lado do antigo Querobimbar, atual Bar Querubim – que teve que trocar o nome por conta de alguns conservadores –, e serve até o tradicional pão com prego. Aos leitores menos versados na arte de café da manhã em boteco, eu explico que é um petisco português e que o prego é um salutar bife passado ao gosto do freguês. Deve-se a Manuel Dias Prego, criador do sanduíche, este nome tão ímpar. Minha preferência é facilmente explicável pela dupla possibilidade de conversa que o referido local agrega: você tanto papeia com o amigo na padaria, quanto com os clientes habituais do boteco, que costumam abrir os trabalhos bem cedo. Ou seja, interlocução não faltará.

Outra padaria de vital importância para a saciedade deste desejo tão brasileiro de café com prosa é a da 114. Lá, temos, inclusive, o luxo de um balcão de azulejos brancos limpíssimo, no qual podemos apoiar o cotovelo, num momento de descanso, ou deixar o café esfriar um pouco na xícara ou no copinho descartável.Os salgados, na 114, são tradicionais, e devem nada a nenhuma outra instituição dedicada ao saudável hábito de servir café, mas o local aventa a possibilidade de um encontro com uma das figuras mais ilustres da Asa Norte: Mister Betossauro.Beto, para os íntimos, é o único habitante vivo do Distrito Federal a ter uma avenida com seu nome. Embora, deva se dizer, não seja por Decreto, Lei ou nada oficial, mas na consideração e boca dos clientes e das profissionais da noite, a N1 é sempre mencionada como avenida Betossauro. E a voz do povo, como se sabe, é a voz de Deus. Em outra crônica, eu falo melhor desta figura. Mas vejo que, ali da esquina da imaginação, com seus salgados e café em punho, tanto o Paulo quanto o FAN me fazem sinal de que o tempo da crônica é finito.

E quem sou eu para discordar de tão nobres senhores. Despeço-me de vocês nesta manhã de Domingo e vou até eles. Afinal, não é de hoje que estou com vontade de tomar um cafezinho e trocar dois dedos de prosa com alguns amigos.Vicente SáNovo

PS: As Crônicas S/A, agora, estão sendo publicadas nos portais – Central de Jornalismo – www.centraldejornalisamo.com.br e www.aultimafolha.com.br e transmitidas pela Rádio Esplanada FM, todas as segundas feiras às 9 horas da manhã. Os leitores que quiserem ouvir minhas histórias pela minha voz devem acessar o site www.radioesplanadafm.org ou usar o aplicativo radiosnet.com. Até o próximo Domingo ou até amanhã

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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