Diário da Quarentena-O Brasil é uma grande agência do INSS

Por Caco Schmitt

Jornalista, roteirista e diretor. Trabalhou na TV Cultura/SP como diretor e chefe da pauta do jornalismo; diretor na Agência Carta Maior/SP e na Produtora Argumento/SP. Editor de texto no Fantástico, TV Globo/SP. Repórter em vários jornais de Porto Alegre, São Paulo e Brasília.

O que está acontecendo hoje nas agências do INSS é o retrato do Brasil da Covid-19. Estamos no meio de uma grave pandemia, milhares de mortes e de novas contaminações todos os dias e o país finge que tudo está voltando ao normal para esconder que cedeu a pressões de setores da economia e do calendário eleitoral. O que me vem à mente é a memorável frase do jogador de futebol Vampeta: “Eles fingem que me pagam e eu finjo que jogo”. Fingir é enganar, parecer uma coisa que não é. E a Associação Nacional dos Peritos Médicos Federais (ANMP), que faz as perícias do INSS, está desnudando a realidade do país. Hoje, o atendimento presencial deveria voltar, mas a categoria anunciou que não retornará ao serviço presencial porque, de acordo com a entidade, “apenas 12 das mais de 800 agências do INSS apresentam as condições necessárias para garantir a segurança dos servidores durante a pandemia de COVID-19”.
Não adianta o presidente do INSS vir a público pedir desculpas aos milhões de brasileiros que aguardam uma perícia, a concessão de um mísero benefício, o que ele deveria ter feito era preparar as agências para a volta. Teve seis meses e nada fez. Achou que poderia abrir as agências de qualquer maneira porque o pobre está necessitado, o trabalhador desesperado pelo seguro. Vão encarar as precárias condições, enfrentar o risco de contágio porque precisam sobreviver, afinal, é quase o mesmo povo das filas da Caixa que busca o auxílio emergencial. Não buscou equipar de proteção de beneficiários e funcionários porque segue a lógica assassina desse governo.
É o que está acontecendo no país. Querem liberar as escolas, mas não preparam a estrutura para evitar infecções. Bota um álcool gel (bem pouquinho per capta) e mede a temperatura de pessoas assintomáticas e está pronto. Liberam as lojas, mas não fiscalizam. O transporte público segue transportando o novo coronavírus em massa e os municípios fingem que fiscalizam. Os bares fingem que as aglomerações nas calçadas não têm nada a ver com eles, a fiscalização finge que fiscaliza e o povo finge que mantém o distanciamento social e coloca a máscara no bolso do casaco. As igrejas aglomeram e mandam rezar. Tudo está sendo aberto, flexibilizado, no Brasil com essa lógica. Como já afirmei anteriormente: só a vacina salva!
Mas no caso do INSS é mais difícil fingir pra os médicos. A Associação dos Peritos informa que “em boa parte das agências não há sequer equipamentos de proteção individual, o que força a categoria a não voltar ao trabalho presencial”. São mais de 1,5 mil agências no país e, tradicionalmente, são locais de aglomeração. Os médicos constataram que não há ambientes em condições para fazer as perícias. Faltam lençóis e aventais descartáveis. EPIs em número suficiente. Salas com condicionadores de ar sem higienização, outras sem ar. Não está prevista a desinfecção dos ambientes e aparelhos após cada consulta, o que aumenta o risco de transmissão. E os médicos, ao contrário desse governo e de empresários e comerciantes inescrupulosos, não querem fazer das agências focos de infecção como são os frigoríficos (campeões de infecção no país), não querem ser genocidas como as casas de longa permanência de idosos (líderes em mortes), não querem ser bandidos como os empresários do setor de transportes que durante todos os seis meses de pandemia só se preocuparam com seus lucros. Todos esses cínicos fingidos dizem (fingem) que tomam todos os cuidados e, quando há contaminações e mortes, afirmam que não é com eles…
Esse governo nunca se preocupou em combater a pandemia, pelo contrário, é responsável pelo crescimento dos casos e mortes no país e pela postura burra e suicida de milhões de brasileiros que o apoiam. Esse governo acha que pode abrir as escolas, fingindo que está tomando precauções para evitar o contágio de milhões de crianças, jovens e adolescentes. Esse governo acha que pode liberar tudo, dizer que a gripezinha está controlada, mas não pode enganar os médicos que fazem perícia no INSS. Por essa perícia o governo Bolsonaro não passa.

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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