Diário da Quarentena – dia 200 (05.10.2020)

Por Caco Schmitt

Jornalista, roteirista e diretor. Trabalhou na TV Cultura/SP como diretor e chefe da pauta do jornalismo; diretor na Agência Carta Maior/SP e na Produtora Argumento/SP. Editor de texto no Fantástico, TV Globo/SP. Repórter em vários jornais de Porto Alegre, São Paulo e Brasília.

200 Dias de eternidade…

Quase sete meses de quarentena! Já se vão 200 dias desde que comecei o meu recolhimento defensivo em março. Confesso que não imaginava permanecer tanto tempo assim, mas com o descontrole provocado por esse governo irresponsável, com o número de contaminações e de mortes crescendo diariamente, concluí que ano de 2020 deixaria de existir. Não restaria outra alternativa a não ser a estranha e inédita reclusão. Nesses 200 dias foram poucas as saídas da base: uma ida ao centro de Porto Alegre para resolver problemas no banco; duas visitas à minha agência do bairro; dois bate-e-volta ao litoral; duas percorridas por alguns municípios da Serra gaúcha, a Rota Romântica, para buscar chocolates e queijos; duas feirinhas; uma compra na farmácia da esquina e um conserto de panelas também pertinho de casa. Contatos sociais só com minhas duas irmãs, uma no andar de cima e outra duas casas ao lado, e com meus filhos e netos, em visitas rápidas e repletas de cuidados. Sigo firme com os “protocolos” recomendados, máscara para sair, álcool gel, sanitizando ambientes e desinfetando tudo que entra em casa. Supermercado nem me recordo mais como é por dentro, mas não sinto falta, quando iniciar a ressocialização lenta e gradual, vou seguir mais um tempo com as compras no mercadinho do bairro que entrega na porta. Penso muito em retomar mais intensamente atos sociais, mas piso no freio, não dá pra vacilar, por mais que a vontade de chutar o balde seja cada vez maior: falta pouco pra vacina chegar!
Hoje, ao comentar sobre o calendário riscado até setembro que postei no Facebook, um amigo disse: “Parece que foi ontem que tu postou o ‘dia Um’ dos teus relatos da Pandemia”. Somei e concluí: 200 dias de quarentena. Fiquei pensando… 200 dias praticamente isolado, me relacionando mais em contatos via telefone, watts, Facebook do que encontros pessoais. Consegui resistir tanto tempo, e acredito que a maioria das minhas amigas e amigos também, graças à tecnologia, ao contato via redes sociais, e-mail, telefone. Sem as amizades, seria muito complicado resistir… Então, com todos os defeitos e distorções, viva as redes sociais! Ou melhor: viva a amizade que conseguimos contatar via redes e telefone!
No Brasil, por mais que alguns indicadores tenham melhorado, ainda morre muita gente todos os dias, a contaminação segue alta, e as “autoridades” não são confiáveis. E o povo não ajuda também. Só sairemos dessa com vacina, não tem jeito de melhorar muito, não. Mas eu tenho fé de que até o final do ano teremos o calendário de vacinação contra a covid-19. Até lá, até a picada salvadora, vou seguir recluso, só um pouquinho mais social, com alguns necessários, breves e cuidadosos contatos. Mas depois de liberado, o processo de ressocialização será rapidinho, é como andar de bicicleta: a gente nunca esquece. Pra ir a bar não precisa fisioterapia, a hora que todos saírem às ruas, estarei sentado no Bar do Alexandre, no Menino Deus, pedindo a entradeira e, depois de horas, a saideira na madrugada… Afinal, 200 dias são uma eternidade. Merecemos muitos brindes! Um brinde especial ao renascimento! Com sete meses de gestação (210 dias), um bebê já está apto à vida, pesa um quilo e meio e pode ter uns 40 cm. Aos sete meses (210 dias), um recém-nascido já consegue sentar sozinho e se inclinar para frente. E começa a engatinhar, ou se arrastar em direção a algum objeto. Se o destino me permitir, eu pretendo engatinhar e começar a andar novamente com muita alegria e junto com a família e minhas amigas e amigos. E comemorar a vida pós-pandemia com a mesma intensidade que fazíamos até o começo desse ano.

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Fonte Segura: Central de Jornalismo

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